O Bar Luva Dourada


Nada que Lars Von Trier já fez, incluso pato manco, pedra de moinho e musical com Björk; Nada que Michael Haneke já filmou, incluso violência gratuita, funny games e professora de piano; Nada no cinema, nem os cacos de vidro de GRITOS E SUSSURROS, o ovo dO IMPÉRIO DOS SENTIDOS, O blowjob de BROWN BUNNY, nada se compara aO BAR LUVA DOURADA, o filme maldito que Fatih Akin fez, o livro que Heinz Strunk escreveu, o pub de merda que Fritz Honka constrói e todo esse horror, o horror que nos toma de início ao lado dos bêbados, das putas e dos marinheiros, a sede eterna por conhaque barato servido em copos gordurosos, que nos embebeda como ratos na ratoeira, zumbis no baile do monstro e, não, não há qualquer humanidade aqui, sequer pretensão.

Somente a descrição do cenário já seria suficiente para o completo escárnio, mas o freak show vai além e cada vez mais profundo: logo o protagonista se levanta do balcão imundo e caminha até o centro da história e, sob tais holofotes, surge Honka, o fantasma que estampa as manchetes de Hamburgo, o serial killer desse conto sombrio, senão todo o mal nas profundezas do inferno. Ao cineasta, cabe seguir de perto esse monstro. Seu filme fede a suor, ácido estomacal e sofrimento. As vítimas (ou seria o público?) são os fantoches sonolentos nas mãos de um deus cansado, o juiz que condena e executa a própria sentença e donde a linha entre o nojo e a pena é muito tênue. Então, um cinema-açougue, donde as pessoas são pesos de sangue, carne podre para o abate, o esquartejo, a tortura, o espetáculo ad nauseum.

Diante do horror, ficamos silenciosos, ignorantes, atordoados, quase em catalepsia. O filme não analisa nada e é tão impotente quanto suas vítimas, mas não se distrai um só minuto delas, nessa incursão extrema, quase grotesca, por minguados de atenção e, depois, o massacre obsceno que é difícil de ver e mais difícil ainda de desviar o olhar. E é assim porque o cineasta nos hipnotiza pelo mal, pela mise-en-scène sombria, a miséria barroca, duas horas de abominação, de cheiro do ralo, de cenas indefensáveis… se vale ou ingresso ou exorcismo, cabe ao expectador (ou ao seu fetiche), mas estejam avisados: o cinema jamais presenciou algo tão hardcore. Um “A SERBIAN FILM” made in Germany.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Warner Bros., incluso entrevista com a diretor e notas de produção
RATING: 52/100

TRAILER

Article Categories:
FILMES · BERLIM

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.