A Casa que Jack Construiu


Pro inferno, JACK, e a casa que você construiu… em busca de redenção, de propaganda, seja lá o que for, Lars von Trier abre um açougue e lá executa sua carne. O público, em êxtase ou repulsa, é o pato manco que abandona a sala aos tropeços, ou aplaude efusivamente, batendo panela. Não há meio termo aqui, qualquer concessão. Somos cordeirinhos diante do tigre, uma família perdida num piquenique qualquer. O cineasta somente nos coloca o boné vermelho, pede à Matt Dillon ajustar o foco e fazer seu trabalho. Sim, somos vítimas, diante dessa armadilha cinematográfica. Apenas o tijolo com o qual o cineasta constrói sua casa, seu filme, o terror. O horror.

E já sabíamos disso. Não há dúvidas. De um filme que recorre ao aviso de conter “cenas de violência explícita que podem ferir a sensibilidade do espectador”, de um diretor “persona non grata”, que veio ao mundo com ANTICRISTO e MELANCOLIA, não podia ser nada diferente, ou menos “desagradável” ou tortuoso”. Seu filme, aos passos de NINFOMANIACA, se divide em episódios (ou “incidentes”), na construção – tijolo por tijolo – de um serial killer, docemente chamado de Jack, o sofisticado. E nesse rastro de sangue de mulheres apaixonadas, abandonadas e perdidas, na sutil arte de matar, de morrer e, desse ato, construir um santuário para si, um cinema gélido, frio, senão a taxidermia das pessoas e seus horrores e, dali uma igreja de possíveis reflexões, o cineasta nos convida a conversar com Verge, o improvável narrador, o anticristo, ou ele próprio, o arquiteto do inferno, a cada cena, um círculo dentro e mais profundo.

Uma arte – o filme – que começa por Uma Thurman em arte cubista, depois os rigores do TOC na cena do crime – e que nos arrasta para dentro e para fora da Sala, num constante martírio – então uma caçada revigorante em um domingo no parque, o artesanato de uma carteira de couro, por fim, a centopeia humana a espera de uma Full Metal Jacket. A cada episódio, uma descrição “sofisticada” do mal, dessa VIOLENCIA GRATUITA que Haneke já filmou, tantos outros diretores já filmaram sem estardalhaço, mas aqui, com toques de mal e sadismo, se sobressai porque o cineasta – como exímio artista que é – sabe criar suspense, não no filme, mas muito antes, já na produção e nos trailers. É, portanto, um evento, goste ou não, o dedo na ferida, a culpa, a expiação, a provável redenção. Embora, aqui, não haja salvação. Apenas outro filme de Lars.

RATING: 70/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · RIO · MOSTRA SP

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