CANÇÃO DE GRANITO ressoa em nossos ouvidos, em nossos olhos, em nossa boca, por toda a Irlanda, a oralidade de tempos antigos, o texto perdido de um clã de poetas esquecidos, que talharam em pedra vários mantras, e de verso em verso, estrofe em estrofe, de pai para filho, ao redor da fogueira, da lebre caçada e esfolada, cozida e estalando no fogo, se declamava de peito aberto, sem qualquer instrumento, apenas a voz e as palavras, o estranho feitiço, rítmico, xamânico, exótico que elas produzem.
Então, Pat Collins filma um estranho musical, filmado na pedra, no grão, no rústico preto e branco, na textura ínfima das escalas de cinza, primeiro a infância de um pequeno, o canto timidamente escondido na aula de catequese, seus jogos de infância, na praia, no mar, entalhando conchas ou correndo com as cabras e, durante essa parte, seu tênue relacionamento com o pai, maestro, professor, poeta de tempos antigos, ali, no mais rotineiro, pescando sardinhas e plantando batatas, sendo pai e filho. Pausa. Ele canta acappella e todos ouvem, alguém grava para a posteridade.
O filme avança no tempo, se confunde com imagens de arquivo, reconstrói um tempo e uma época de progresso, os anos 50, 60, e, com ele, o menino crescido vai aos pubs, aos saraus de canto e chope. Afinal na formação de Joe Heaney, porque é disso que esse cinema trata: De um mito e suas lendas, e isso filmado pedra sobre pedra, no granito frio, na película obscura, no mais magnânimo, no mais magmático. Sim, um cinema duro, resistente, entalhando no mais tênue silicato, na composição rude, na estrutura crua. Afinal na rocha. Pat Collins é senão outro poeta dessa história.
RATING: 65/100
TRAILER