Eis o flerte de TOM OF FINLAND: O rascunho de homens em roupas de couro, uniformes clichês e fetiches fulos, olhares mórbidos e desejos lascivos, isso pela noite, no parque, nas sombras, entre voyeurs e fumaça, cigarros e guerra. Um universo orbitando entre a transgressão e a convenção, que parte do clássico xucro, velho e retrô, a biografia sem graça de um soldado qualquer e, daí, sempre em busca do desejo e os bigodes, os desenhos de cera entre banheiros e portas, à caça de pegadas mais fortes, orgasmos mais intensos. E isso pela loucura. Pelo perigo. Homens pavões pelo mato, selvagens em busca de coisas furtivas, seus dedos ágeis pelo cinto, em torno do lápis que se desenha feroz, do cigarro que arde em brasas. Quepes e cassetetes. Motores e motocicletas. Dominação e inspiração. E é só um esboço.
Porque o resto é a caricatura de um mito, um filme comum de um homem comum que nada fez além de desenhar o desejo. E que Dome Karukoski filma sem tesão, apenas o retrato preto no branco, sem cores, sem vida, na clandestinidade de Tom of Finland, ele preso, depois solto, suas gravuras escondidas em casacos e botas de couro, na surdina das vielas, nos sussurros dos vestiários. Um homem vivendo sua vida, ora desenhando, ora caçando e cuja obra, desenhou uma geração, toda uma cultura LGBT e, dali a América, o mundo. Não é pouco. Pouco é o filme desse cineasta, tão quadradinho, tão fora do “tom” e, não à toa, seja o filme da Finlândia para o Oscar, o que o torna ainda mais convencional e menos revolucionário. Uma pena.
RATING: 63/100
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