Ma´Rosa


Apaixonado pelo cinema-verdade e o flerte entre documentário e ficção, Brillante Mendoza gosta de manter o espectador sem fôlego. Esse fetiche é, talvez, a principal qualidade de seus filmes: O microcosmo fiel – e detalhado – com que retrata seu pequeno e desconhecido país, as Filipinas. E não há concessões (Para nosso prazer ou horror). Assim foi em SERBIS, a decadência de outrora retratada nas ruinas de um antigo cinema. Assim foi em KINATAY, uma experiência única na metamorfose de uma cidade ao anoitecer. Assim foi em LOLA, o conto de duas mulheres, duas velhas que tentam consertar o mundo, quebrado pelos seus próprios netos, um assassino do outro.

E novamente o é em MA´ROSA, a via crucis de uma família, dona de uma pequena loja de conveniência, no centro de uma favela de Metro Manila. Drogas e pobreza inclusos nesse thriller minimalista, feio, sujo e encarquilhado, donde cada cena é caótica, sucinta e banhada de poesia e discrição. A câmera sem se importar muito com os enquadramentos, sempre em zigue zague nos lugares, pelos corredores estreitos, escuros, miseráveis, entre as pessoas dessa família, presos em tocaia e encarcerados na corrupção de um sistema falido.

Então, de um supermercado lotado, do transito infernal, da tempestade imprevista, vemos ensopados (de chuva e suor), esse “favela-movie”, as pessoas indo e voltando, jogando nas ruas, conversando, cozinhando em latas, das latas vendendo, as motos buzinando, as televisões chuviscando, os gatinhos, os gatos, a parafernália. E como se não houvesse caos o suficiente para se filmar, surge a polícia do nada, a trilha sonora a remoer nossos ouvidos como se fosse um helicóptero. A cidade alerta. A câmera perdida na tormenta, nas pessoas, os gritos e a operação, num falso plano sequência, orbitando entre os culpados, os criminosos, ao redor, aos ombros, aos passos de um pesadelo. E daí, o delegado e a sentença absurda, os filhos em busca do dinheiro (Que dinheiro?), entre os amigos (Que amigos?), nessa jornada sem fim pelas zonas mais obscuras da humanidade. E que humanidade? Não tem… Mendoza grita, filma. Ninguém ouve. Ninguém vê.

RATING: 61/100

TRAILER

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REVIEW · CANNES · TIFF · MOSTRA SP

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