Ixcanul

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IXCANUL é o vulcão. A menina prometida, que nega seu destino e se oferece para a natureza, entre as árvores, o vento, as cinzas. Ou a mãe em desgraça, donde emana certa sensualidade e cujo leite tem a magia de afugentar as cobras, atrasar as luas, mais forte que o chá amargo cozido entre mitos, ritos, na (in)fusão de documentário e fábula, senão o fogo crente de antigas tribos. Ou a terra negra que margeia a comunidade maya, donde vivem tantos trabalhadores de uma pequena plantação de café, tantos sonhos além do vulcão, os olhares voltados a terra prometida, a própria garota.

E, ali, na extrema pobreza, entre o exótico e o inusitado, os porcos embriagados, a palha colhida, a chouriça fresca, a lava adormecida e os cânticos à mãe terra, à colheita, à montanha, vemos Maria, entre o pecado e o trabalho, Pepe e Ignácio, a câmera de Jayro Bustamante em plena comunhão com seu rosto e desde o princípio, nessa face impassível, seus cabelos cuidadosamente penteados, a xiita amarrada em milhões de fitas. Esse é o seu destino, seu trabalho, seu fim.

Um filme etnográfico, donde o cineasta restaura meticulosamente os teares de um povo, enquanto ao fundo tece a Guatemala e seu espirito milenar. Sim, um filme simples, sem qualquer ostentação, mas que eclode pela tela e nos encanta. Um vulcão em erupção, e é assim pela narrativa extremamente delicada, ao ritmo da superstição, ao sabor da inevitabilidade, ao clamor das divindades, isso no abismo do mundo, do mais íntimo. O quadro vivo de personagens, emoldurados em muitas cores, cheiros e dialetos, vindos de longe, pela terra selvagem, se movendo muito lentamente até chegar ao primeiro plano, sempre com essa câmera que não se desvia um milímetro e, no entanto, gasta minutos para tal registro. Tal documento lembra outros filmes, outros cineastas, a antropologia que remete à TETA ASSUSTADA de Claudia Llosa, à LOLA e THY WOMB de Brillante Mendoza, ao NORTE – FIM DA HISTÓRIA e DO QUE VEM ANTES de Lav Diaz. Cineastas, cada qual em seu mundo e seu tear, filmando o tapete de seu povo, mas todos caminhando rumo ao onipresente, ao mágico. Senão, Deus. O homem. As mulheres. Eis a poesia.

RATING: 83/100

TRAILER

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REVIEW · BERLIM · TIFF · SAN SEBASTIAN · MOSTRA SP

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