LONGE DESTE INSENSATO MUNDO, de um lugar donde amar parece um erro, donde os sentimentos se enterram na penumbra, no revês da sorte, nas terríveis fatalidades, nos enganos e desencontros, na fronteira entre a tentação e a tradição, ou no campo entre a razão e a sensibilidade, o Sol a pino, o trigo farto, o mar, perigoso mar, que leva e traz seus mortos, que leva e traz seus sonhos, Thomas Vinterberg filma o espirito de uma mulher, idos 1870, diante de sua quinta e seus pretendentes, um pastor, um fazendeiro, um soldado. E todos apaixonados por essa rebeldia, por esse insensato ser.
Um filme sob (con)texto, longe de qualquer convenção, moldado ao feminismo igualitário, o coração apertado, renegado, rejeitado. Um mero capricho, enquanto lá fora, arde o fogo e o trovão, a loucura passional que se atira pelo penhasco, o espartilho melodramático que subverte qualquer esperança, qualquer pedido de felicidade, porque o amor não cabe no labor, ou nessa inquietude aludida por violinos.
E cujo suspense não se resolve, mas se move insidiosamente pelo pastoral, através da paixão e do realismo, ali, na floresta, entre samambaias e jogos de esgrima, a espada que corta o ar da protagonista, tremula e ofegante, cansada de tudo, de lutar, de raciocinar, uma ovelha perdida, sim, nesse insensato mundo que tanto se afastou e cujo turbilhão, intenso, cortante, é sedutor demais para escapar. E pelo uniforme escarlate que se ama e se odeia, que se vive o som e a fúria de um suceder de tragédias, de fins, de dividas e dúvidas, que ao final, ao longe de tudo, do resto do mundo, de Madding Crowd, o passado enterrado e preso, apenas um pretendente e uma proposta, uma pergunta, e porque não? O desejo presente. Uma troca de olhares. A protagonista ansiosa por esse pedido que não vem, a câmera nervosa atrás dela, a expectativa contida no silencio. Não é preciso. O final está implícito. Este mundo, ao final, é bem sensato.
RATING: 70/100
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