Tão delicioso quanto delicado, ERNEST ET CÉLESTINE é uma pequena joia. Uma iguaria para crianças, uma animação leve, de roteiro malicioso, personagens cativantes e um estilo impressionista – um sopro de aquarela, quase um croqui – agradável ao olhar e pensar.
Seria de se imaginar que as aventuras do urso devotado e o ratinho travesso, criados por Gabrielle Vincent há mais de 30 anos, estivesse ultrapassada. Não está. O roteirista Daniel Pennac enfeitou seu texto com um pouco de escárnio, um pouco de provocação, e transformou o material original, essa linda e convencional história em pastel e 2D, em algo novo, quase um flerte com o cinema mudo. Tudo muito simples, mas cujo efeito é único: O riso fácil diante de tantas peripécias, basicamente entre Ernest, um pobre músico a vagar pelo mundo conformista dos ursos, e Célestine, um órfão, que fugiu do mundo subterrâneo dos roedores para tentar a sorte na superfície.
É desse encontro, desse choque de dois mundos, entre a doçura e a tristeza, que se desenha uma historia repleta de sarcasmo, ironia e luz, de certa moralidade antiburguesa e desafio a autoridade, mas carinhosa com esses dois proscritos na sociedade, enfim amigos, músicos e palhaços da alma. Um confronto que nos toca, nos enternece, do primeiro ao ultimo frame, em seu charme, em seu engenho, em sua elegância formal.
(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Studio Canal, incluso entrevista com a diretor e notas de produção
RATING: 74/100
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