The Old Oak

Poucas coisas são mais infelizes do que uma cidade que outrora floresceu, mas hoje definha quase deserta depois do final da mineração que garantia sua prosperidade. É também o caso do vilarejo britânico de THE OLD OAK, cuja ação decorre perto do pub titular, local onde se reúnem todos os dias, os poucos moradores que a vida, a natureza e as necessidades têm impedido de partir. Um dia, o silêncio agonizante da cidade é interrompido pela chegada de um ônibus de refugiados sírios. É o momento em que ocorre o primeiro conflito, mas também em que se nota o abismo entre as comunidades e suas perspectivas: para os refugiados, a pequena cidade significa uma novo começo, enquanto para os locais, os refugiados são como corvos saindo de um cadáver, um sinal definitivo do fim dos tempos.

Então, aos 87 anos, Ken Loach – o eterno defensor de todos os humilhados e insultados – nos convida à compreensão em seu novo (e provavelmente último) panfleto, sua sina de fazer justiça com a própria câmera. De novo, como outrora em VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI e EU, DANIEL BLAKE, o olhar crítico sobre a modernidade, sua persona como receptor espiritual indignado, responsável pelo (bom) senso social. O detalhe é que, de todos os filmes recentes, THE OLD OAK oferece o diálogo mais espirituoso, o final mais sentimental do tipo “todos se abraçam”. Em torno dos personagens principais, o velho bartender, a adolescente síria, um coro de vozes se une mutuamente para servir os argumentos datados do nacionalismo e xenofobia, sim, uma mensagem simples sufocada de boas intenções, até aquém do que o tema nos propõe nessa arte, e falo de EUROPA, ZONA DE EXCLUSÃO e EU, CAPITÃO só para citar alguns títulos de 2023.

Um cinema, portanto, difícil de abraçar plenamente, essa inadequação aos tempos, a insistência perniciosa em falar do mundo no mesmo tom antiquado e manipulador, mesmo porque há vários mundos que estão a mudar mais rapidamente do que o próprio cinema. Não é um demérito, ainda falamos do cineasta de KES e VENTOS DA LIBERDADE, mas é uma visão de cinema mais moderada, uma sessão da tarde para matinê na Globo, com alta dose de otimismo e chá com bolinhos.

RATING: 69/100

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REVIEW · CANNES · LOCARNO

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