Abraçando a tese do anterior AUTOCRÍTICA DE UM CÃO BURGUÊS, Julian Radlmaier segue emulando o cinema de Miguel Gomes, agora em 1928 (ou não), uma comédia marxista de vampiros, saudades e “Das Kapital”. Novamente um texto reflexivo, meio mambembe e de muitas digressões e absurdos, que inventa histórias para contar uma história: a desse homem que foi ver o mar, não se sabe de onde, nem porque, mas rapidamente é convidado para frequentar a sociedade sem classe. “Ele certamente fugiu dos campos comunistas da Sibéria”, diz o criado-assistente, “Aposto que envia cartas de amor em pombo-correio”, flerta a excêntrica filha de industrial. Ele próprio conta a história: “Ele é Petushkin, mas lhe chamam de Lyovochka. Seria Trotsky, segundo Sergei Eisenstein, mas – Sabotagem! – o próprio caiu em desgraça aos olhos de Stalin”. Agora tenta a sorte em Hollywood disfarçado de aristocrata, mas não engana ninguém porque é um barão estranho, mal sabe comer escargot, nem distinguir uma taça de champanhe ou martini. Certamente não é vampiro, como fofocam os aldeões. Ele tem reflexo.
Então, o duplo prazer do discurso e da prática: enquanto um grupo de camponeses se reúnem para confabular Karl Marx, Proust e Bram Stoker – “O capitalista tem um único impulso de vida: absorver a maior quantidade possível de mais-valia. Ele é como um vampiro, e este é o ponto, só vive sugando trabalho vivo e quanto mais vive, mais trabalho suga. Ele não desiste enquanto houver um músculo, um nervo, uma gota de sangue a ser explorado” -, surge um chinês que cultiva algas para fazer pomadas para picada de pulga. Todos compram dele, porque é mais barato. Embora ele arruína os preços da indústria e isso reflete no salário das pessoas que compram do chinês porque não têm dinheiro para comprar as pomadas da indústria… E o protagonista? Esse tem outra história: “Ele já foi um ladrão… uma vez que a revolução se esqueceu de abolir o trabalho assalariado e não havia trabalho, ele precisou roubar, mas se apaixonou pela vítima e foram viver do proletário. De noite, eles faziam amor e recitavam Karl Marx um para o outro, até seus camaradas reclamarem do barulho.”
Disso a comédia surge inesperada, diferentes realidades e lógicas se misturam, elementos fantásticos se misturam, o filme nessa toada de fábula dialética, romance de verão e panfleto formalista, assumindo que a descrição marxista do “capitalista como vampiro” está longe de ser metafórica, contudo, em certo ponto a narrativa se desgasta, o roteiro circunda as mesmas ideias sem saber ao certo o que quer de seu comunismo ou os porquês. E de novo, o cineasta resolve sua historia em uma situação de filme dentro de filme, fazendo outro desvio abrupto para a manipulação da realidade e xenofobia. Ainda que seja uma solução moralmente elegante – os oprimidos continuam a direcionar sua “violência de classe” na direção errada, oferecendo seus pescoços às presas dos opressores – o próprio protagonista admite: “Besteira!”. E por que não aprender com os erros do passado e tentar novamente? Fica de novo a autocrítica.
RATING: 71/100
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