Esplendor


Em RADIANCE, Naomi Kawase filma a luz. Esse tênue brilho que nos fascina, os tons dourados e prateados, os azuis e amarelos e pálidos tecidos do amanhecer, da luz e da meia luz que nos deslumbra, nos atrai e se traduz num amor cego, livre, primordial. Filma o encontro de dois seres, as faíscas, o fogo, a luz que surge desses astros, ela, uma jovem aprendendo a enxergar, ele, um velho aprendendo a esquecer. E desse cinema, tantas fotos, os dois humildemente envoltos pela sombra, dois monumentos cegos, vazios, pisados, eclipsados, vemos uma história radiante até então invisível aos olhos, mas que a cineasta emoldura no sublime. Nesse calor. Nesse amor.

O resto é a primavera, essa luz que ninguém olha, mas está onipresente, invadindo a grande tela para, ali, se decompor em várias cores, nuances e matizes. Uma luz inesgotável. Um amor inexaurível. Um cinema que reluz neblina, nos consome nessa chama, e brilha, e luze, e fascina, como um belo cristal, que nos nega o ar, o folego, as lagrimas, uma estrela, o Sol que nos cega, mas nunca nos nega seu sorriso, todo dia, toda a claridade que cabe numa janela, nesse cinema. Com calor. Com paixão

Também um cinema de horizontes, de sensações genuínas. Da chuva que bate no rosto, sentimos cada gota, seu som inesgotável, úmido, quase uma melodia triste que dedilha por nossa pele. Do vento que sopra, que farfalha pelas árvores, agita as folhas em seus tons de dourado e verde, qual uma canção de verão, sentimos a alegria em cada pequena voz, em cada planta em regozijo. Das ondas do mar que invadem a tela, do cachecol laranja que desaparece, desvanece, se perde na ressaca, diante de nossos olhos, os mesmos marejados pelas lágrimas, pelas doces memórias, por esse filme de lamentos e recomeços, sentimos lá no fundo, o coração batendo, bem forte por esse cinema, por nossos pais, nossos avós, pelo sublime. Olhamos o céu, o Sol se pondo, toda a quietude do planeta e, ao mesmo tempo, as Palmas, intensas, calorosas. Isso é cinema. Obrigado, Kawase.

RATING: 75/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · TIFF · MOSTRA SP

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