Tom Medina

A história de TOM MEDINA é a própria história de Tony Gatlif, ele sequer esconde. É a sua adolescência na costa da Camarga, sul da França, ali para domar a violência e lidar com seus mistérios, embora não totalmente autobiográfico, porque isso lhe “aborrece”. Então, um filme “inspirado em eventos reais de sua vida”, isso pelo vale selvagem, cavalos de crina ao vento correndo livremente, flamingos rosas em doce afago aos campos, corujas celestinas em despertares súbitos, enquanto pia e canta a viola cigana. E nessa liberdade indomada e feroz, na percussão viciante e febrilmente otimista, ele nos conta uma história de redenção, a desse garoto – na tela, David Murgia -, que foi aos pampas para aprender sua vida. Ele, forasteiro da Argélia, que dormia nas ruas, roubava, seu nome era Tony. Tony Gatlif. Espera… Tom Medina, quero dizer. Foi preso. Foi julgado. Foi sentenciado. Foi lá cuidar dos corcéis. Esse é o filme: uma criança mudando seu destino. Diante dos touros! E arriba maracas e clarinetes!

Portanto, TOM MEDINA é o exorcismo romantizado de um passado. Um cinema de transe inspirado pela natureza, encontros de animais selvagens e pássaros, o vento nebuloso e as tempestades. As músicas são de uma variedade de horizontes e línguas. O roteiro nesse mesmo frenesi, um “Camargue Western” habitado por visões, fascinado por superstição, magia, demônios, o garoto tão somente um aprendiz que desiste de roubar porque está com fome de conhecimento. Sua mestre é Karoline, a mulher-amazona que torce o som como se fosse um ferreiro abanando chamas da fornalha até o metal estar maleável, ela dedilhando as cordas da guitarra como se martela uma ferradura nos cavalos. De repente, também surge um touro branco, um espírito que simboliza força, um ser-guia para Tom (ou Tony) tourear, agarrar pelos chifres, o próprio filme nessa toada dos milagres, ame ou deixe.

E baila, baila o filme! Ao fundo toca “Vengo del Lejos”, sí, muy hermoso, ou Gipsy Rock, ou flamenco, tango ou palmas. Tal cinema (à la Plage?) sempre nessa festinha de Andaluzia, cheio de calor e nostalgia, ode ao folclore, aos sons elétricos e orgânicos, quase a encarnação de um (novo) mundo de aventuras em misteriosa terra assombrada por espíritos. Um filme febril, sem dúvida, o fim (e o início) de um cineasta que já anunciou, será seu último.

RATING: 65/100

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REVIEW · CANNES

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