Poupelle of Chimney Town

“Eu acredito, mesmo se estiver sozinho”


Cercada por um penhasco de infinitos metros, havia uma cidade que não conhecia o mundo. Uma cidade cheia de chaminés e donde a fumaça subia aqui e ali até onde a vista alcança. As pessoas que moravam nessa cidade, até então presas na fumaça negra, não conheciam o céu azul, nem as estrelas brilhantes. Sequer olhavam para o alto porque nada havia para se olhar. POUPELLE OF CHIMNEY TOWN é a história dessa cidade, também de uma sociedade, de um menino e de um coração preso em uma montanha de lixo. É algo diferente da enésima animação da Disney ou mesmo de qualquer aquarela já feita pelo Estúdio Ghibli, é um filme único: um conto de amizade, de pequenos heróis, um monstro de sucata e um limpador de chaminés, feito essencialmente aos pequenos e, portanto, com sua dose de música, aventura e encantamento, não se ilude.

A fonte é um popular livro infantil de Nishino Akihiro, que também roteirizou e produziu essa animação: narra os dogmas de uma cidade escura e cinzenta, dominada de concreto e chaminés, sopro de chama e fumaça e cujo manto obscuro envolve toda a urbe, isolando-a da cidade e com ela, seus habitantes também no limbo, as mentes já escurecidas. A luz (ou iluminismo?) está nesse homem de lata, um lixeiro muito bagunceiro, de lixo muito feio. Ele é o tal Poupelle do título, parece um monstro de Halloween: sua perna é de vassoura velha, sua barriga é de trapo descartado, seu queixo é um balde de lata. Um velho guarda-chuva é seu chapéu. Seu único amigo é um menino cheio de fuligem, ela por todo o corpo. Curiosamente, o garoto não tenta se livrar do (homem) lixo dos seres humanos. E eis uma bela citação para se falar do tema da reciclagem, donde outrora já se falava também de mudanças climáticas.

Há outro personagem na trama, o pai que acredita nas estrelas, de algo mais além, que foi ao mar buscar as estrelas e estrela se tornou. Diria ser o personagem chave, embora ninguém saiba, o pingente de esperança pelo qual os protagonistas se agarram, uma verdade aprisionada em balões. E toda essa história contada como se fosse um conto de fadas, um teatro infantil que flerta com os antigos “kamishibai” japoneses, com narrador e ilustração em movimento. Afinal outra expressão de arte para furar o obscurantismo, como se já não bastasse essa técnica de animação, uma estética colorida que nos remete imediatamente aos filmes de Hayao Miyazaki, O CASTELO ANIMADO em mente, mas também ao fotorrealismo de AKIRA (Katsuhiro Otomo) ou mesmo a textura de PAPRIKA (Kon Satoshi). O filme na verdade, é a estreia de Yuusuke Hirota, com o suporte do mesmo estúdio de TEKKONKINKREET (2006) e FILHOS DO MAR (2019). Fato é, trata-se de uma animação híbrida deslumbrante, que pode cansar um pouco no final, falo isso para o público adulto, mesmo assim digno de nota.

RATING: 68/100

TRAILER

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ANIMAMUNDI · REVIEW · ROTTERDAM

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