Liga da Justiça – Snyder Cut

E o “fan service” venceu: são quatro horas de deuses e monstros, tragédia grega e tom épico, um filme (ou minissérie) pesado por seus próprios méritos, muito obscuro e solene, de muito contexto, histórias de origem devidamente contadas, uma montagem que valoriza os personagens, essa jornada do herói, de aflições, de câmera lenta e cinquenta tons de cinza. As cenas também mais bem trabalhadas e construídas, expandidas em toda a sua grandiosidade e sempre em função do argumento, o que torna essa variante “Snyder Cut” mais polida. Para os fãs, aqueles que sempre sonharam e lutaram por essa versão, assinou abaixo assinado e tudo, é um filme definitivo. Numa visão geral, aliás, o filme de 2017 se torna quase obsoleto.

Na época, Zack Snyder havia filmado todo o seu roteiro de A LIGA DA JUSTIÇA, uma versão do diretor já estava pronta e a pós-produção totalmente encaminhada, isso até maio de 2017, quando ele deixou o cargo após uma tragédia familiar. Nesse ponto, a Warner Bros aproveitou a oportunidade para retalhar o filme, o fez por uma questão de negócio, ela queria algo mais leve e bem-humorado, como os filmes da Marvel faziam, então contratou Joss Whedon que praticamente refez tudo, escreveu 80 novas páginas de roteiro e conduziu vários meses de refilmagens, incluso a lenda do bigodinho de Henry Cavill. Ou seja, da montagem bruta de Synder de 5 horas, que ele cortou para 3 horas e meia, o filme saiu nos cinemas com apenas 2 horas de duração e, no final das contas, usou apenas 30-45 minutos da filmagem original e pior: foi um completo fracasso comercial e crítico, o que gerou a demanda do público por essa visão original.

E agora, 4 anos depois e novamente numa estratégia de negócio para agregar valor ao seu canal de streaming – a HBO MAX – o filme é relançado conforme planejado pelo diretor dO HOMEM DE AÇO e BATMAN VS SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA, praticamente um (novo) filme com aporte de US$ 70 milhões em financiamento adicional para completar os efeitos, o que é bem nítido pela reluzente armadura do Lobo da Estepe.

Há mais novidades, entretanto, sem dúvida menos cor e humor, a restituição dos temas da divindade e humanidade, poder e ordem instituída, uma trilha mais épica, Super-Homem de uniforme preto, um cameo de Darkseid, Coringa e Lanterna Verde aqui e acolá, mas o destaque fica no desenvolvimento do Ciborgue, quase um protagonista nesse filme, aquele com o arco narrativo mais redondinho e aquele que liga simbolicamente os epílogos dos vários heróis entre si, contudo é fácil entender os porquês de a Warner inicialmente rejeitar essa visão e se encaminhar para outra direção: não só porque é o personagem menos icônico da Liga da Justiça, como também é a vítima mais infeliz da computação gráfica. A modelagem “cibernética” dele não ficou boa e é até gritante comparada com a do Lobo da Estepe. Outras cenas também estão no mesmo estado, fica evidente a tela verde em algumas, a última – o pesadelo de Batman – chega a ser exasperante de malfeita (os diálogos inclusos).

Talvez, o grande mérito de Zack Snyder aqui, seja levar o tempo que for preciso para construir a mitologia da Liga da Justiça como um todo e contar essa história com assinatura – ame ou deixe – de forma coesa. Seu filme tem uma linearidade, todo um desenvolvimento da “Era dos Heróis”, a história por trás da primeira batalha de Darkseid e o desenrolar dessas lendas até os dias atuais, de como cada civilização guardou e protegeu sua caixa materna, isso conforme a sua cultura. Depois, todo um detalhamento para contar as origens do Aquaman, Ciborgue, Flash e Lobo da Estepe, você entende agora as motivações, as revoltas desses personagens, a interação entre eles, a própria inversão de cenas em relação ao filme original contribui para essa atmosfera de formação. O resultado é um corte épico, completo e totalmente diferente, feito exclusivamente para os fãs (e o devido público de nicho), muito mais abundante na ação e no entretenimento, nas voltas e reviravoltas em torno de seus super-heróis, mas ao público em geral é (apenas) outro filme (de catálogo), ora divertido, ora emocionante, às vezes cansativo. Não é ruim. Também não é fenomenal como se esperava.

RATING: 70/100

TRAILER

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FILMES

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