Welcome to Chechnya

De um artigo da jornalista Masha Gessen, na versão impressa do The New Yorker de 3 de julho de 2017, “Os gays que fugiram do expurgo da Chechênia”, David France foi investigar a fonte: o relato de gays chechenos atacados por causa de sua sexualidade, que sobreviveram à prisão injustificável e agora vivem disfarçados na Rússia de Putin. Homens e mulheres condenados subitamente aos porões até assumir sua homossexualidade, ali torturados, interrogados e quebrados, espancados com punhos e cassetetes, às vezes estuprados, frequentemente chantageados e, depois, libertados, humilhados, largados à mercê da tradicional família muçulmana, à sorte dessa roleta russa de ser aceito/não aceito (ou não, porque muitos sequer sobrevivem).

“Se minha família descobrisse… e não estou falando apenas dos homens – quero dizer, há mulheres na minha família que me matariam”; o governo inclusive apoia para “limpar as linhagens chechenas”.

Então, BEM-VINDO À CHECHÊNIA: uma das oitenta e cinco regiões constituintes da Rússia, um estado ostensivamente secular e, não à toa, a versão mais extremista da Federação porque Ramzan Kadyrov a governa como mafioso, usando de retórica religiosa para impor controle sobre os cidadãos e isso numa região já conhecida por seus conflitos religiosos e separatistas. O Kremlin não intervém, se omite, enquanto isso, grupos de vigilância prendem gays e depois os humilha e tortura diante das câmeras, agindo impunemente. É um pesadelo.

E assim, novamente o cineasta – também jornalista – retorna aos temas LGBTQ, como outrora o fizera em HOW TO SURVIVE A PLAGUE, sobre os primeiros ativistas da AIDS; em THE DEATH AND LIFE OF MARSHA P. JOHNSON, sobre a fundação do movimento LGBTQ moderno e os direitos dos transgêneros, agora na Chechênia, nesse cinema de guerrilha e crise humanitária, filmando em GoPros e celulares, o dia a dia de ativistas na extração dessas pessoas em segredo, todo o medo e ameaça, as historias de abuso, as imagens brutais que surgem vez ou outra, a urgência dando o tom, a voz de pessoas contrabandeadas para longe, um abrigo, outro país. O filme apresenta vários gays que precisam de ajuda e conta suas histórias com franqueza e bravura. O faz sob pseudônimos e anonimato, mesmo outros rostos (usando-se de efeitos especiais) para que possam ser filmados e dizerem a verdade sem represálias e provações. O resultado é incendiário, diria perturbador.

RATING: 78/100

TRAILER

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FILMES · BERLIM · SUNDANCE · MOSTRA SP · FILMES LGBT

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