Por Eduardo Benesi
Preciso fazer um filme ou preciso fazer esse filme? Quando cineastas filmam em um fluxo burocrático, inevitavelmente se colocam mais isentos do calendário criativo, tem sido o caso de Olivier Assayas. Esse modo de engrenagem representa sempre um risco qualitativo e um chamariz para a Irregularidade. WASP NETWORK é uma labirintite sobre a Guerra Fria que não nós diz ao que veio, apenas vai, apenas vem, não quer assumir um lado e então se limita ao colapso informativo e um mero painel factual não garante a elaboração do pensamento.
Assayas quer beber complexidades políticas de 10 anos no canudinho mas derrapa em uma anemia relacional. É o segundo tropeço seguido do diretor que já vem do fraco VIDAS DUPLAS. É o típico material que confirma uma certa impressão de que materiais de teor político muitas vezes já se auto-supõem bem resolvidos apenas por alugarem algum momento histórico interessante. Como se o requinte temático garantisse uma relevância que obstrui outras necessidades fílmicas, pior ainda se não houver caldo dramático, pode culminar em um retrato banal injustificado.
Não basta ter um casting-latino-fetiche sem nenhuma atuação em zona de risco, distribuindo aos atores tudo o que já vimos deles em versões muito melhores. Junte a isso um roteiro de cronologia confusa, com uma profusão de deslocamentos que atravessam e concorrem com a nossa assimilação proposta pelo jogo narrativo, isso atrapalha nosso entendimento da história e transforma o longa em um terreno conspiratório que conspira contra si.
A única tentativa de se levantar uma discussão parece jogada fora. O personagem de Edgar Ramirez abandona esposa e filha sem nenhum aviso e passa a trabalhar como agente de espionagem para o governo em Miami. É um saldo moral bem questionável no que se refere ao heroísmo do homem em tom conciliatório com o lado esquivo do machismo. Mesmo havendo um acerto de ponteiros entre o casal anos depois, o que fica subentendido é que qualquer decisão unilateral dentro do pacto conjugal parece justificada caso o motivo seja nobre e altruísta, algo em nome da nação ou um bem maior – e na capa da revista, para variar um homem valente e altruísta. Aí mora uma das maiores contradições: o suposto mártir do próprio cotidiano ganha créditos mas a conta quem pagará é mais uma vez a mulher que não teve o privilégio de escolha. A personagem de Penélope Cruz acaba resignada ao estereótipo dos papeis de gênero socialmente atribuídos e a mensagem que fica não move estrutura alguma: por trás de um grande homem existe sempre uma patrocinadora funcional.
RATING: 50/100
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