O Retorno de Mary Poppins

Falta supercalifragilisticexpialidoce nO RETORNO DE MARY POPPINS… Sim, os principais elementos estão ali, a Rua das Cerejeiras, o navio-telhado do almirante, a casa n. 17, tudo reconstruído em cada detalhe… mas os tempos são outros, Jane e Michael cresceram, quase cinquenta anos se passaram desde Julie Andrews e Dick Van Dyke e uma nova tempestade se aproxima. Ainda é um filme repleto de cor e canção e comédia, mas o tecnicolor cede espaço ao CGI, a dança está mais contida, a música mais amena, tudo cabe numa banheira, ou mesmo numa tigela. E o filme roda muito rápido e rápido e cada vez mais rápido, você pisca e perde uma canção, a animação é mais ágil, consertem a carroça! Leiam um livro! O Lobo fugiu! Rápido corram! Não à toa, Merly Streep fique meio flippity flop (ou flop flippity?).

Na verdade, para entender (ou gostar) desse retorno, Rob Marshall requer do público uma mudança de perspectiva. Portanto, “rápido é lento”, “baixo é alto”, “ir é parar” e Julie Andrews é… bem… Emily Blunt. Comparar os dois filmes, duas gerações tão distintas é inimaginável, então o diretor se mantém à sombra do original, reescreve a mesma história (a mesma que Walt Disney reescreveu das memórias de P.L.Travers), e o faz em seu próprio tempo, mesmo que meio atrasado, mas esforçado e cheio de homenagens. Seu filme é repleto de nostalgia, a mesma pipa remendada de “Let’s Go Fly a Kite”, os mesmos brinquedos de “A Spoonful of Sugar” espalhados em cena, os mesmos desenhos de Bert em “Jolly Holiday” na cena final. Há muita rima visual, comparações e metáforas, uma estrutura quase idêntica no contar da história, os limpadores de chaminés se tornando acendedores de lampião; a brincadeira de “arrumar o quarto” sendo “tomar banho”; o tio doido que flutua virando (literalmente) a prima russa que não gosta de quartas feiras. Sim, ainda é um filme agradável, mas certamente falta algo.

Falta chim chim cheree ao diretor que nunca ousa ir além da borda. Quando o faz, torna-se um pesadelo. Seu filme pisa em cerâmica fina e escorregadia, quase um cinema craquelado e quebradiço que flui desajeitado, meio infantil, no padrãozinho “Disney” de qualidade. É, sem dúvida, uma diversão muito correta (ou esquecível?), mas um tanto longe, aliás muito longe do original de 64. E talvez porque Marshall não seja Disney, Emily não seja Julie, as canções percam seu significado, o almirante esteja velho e cansado… Afinal, o tempo avança impiedoso e mesmo que seja muito fácil voltá-lo, sabíamos que uma revisão, às 12 badaladas do Big Ben, seria uma tarefa bem difícil, improvável, quase impossível. É porque ao “crescer”, perdemos um pouco do supercalifragilisticexpialidoce da infância e ao diretor, certamente faltam uma ou duas colheres de açúcar, diria um pouco da genialidade do próprio Walt Disney. Ok, a vida segue, “Nowhere To Go But Up”.

RATING: 72/100

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