O Filme da Minha Vida, talvez do Oscar

Depois do pequeno fiasco que foi a submissão do Brasil ao Oscar 2017, um PEQUENO SEGREDO que só Marcos Petrucelli é capaz de nos dizer (e que certamente lhe custou um pouco da reputação e o emprego de comentarista de cinema na CBN), as regras para uma nova submissão mudaram, agora está ao encargo da Academia Brasileira de Cinema, o que em tese não muda nada, porque as regras esdruxulas partem da própria Academia de Hollywood. Regras que já excluíram um dos favoritos, o finlandês THE OTHER SIDE OF HOPE, de Aki Kaurismäki, porque o país, ou a comissão do “Petrucelli finlandês” preferiu um novo TOM (OF FINLAND?) para o Prêmio. Em menor grau, o México também cometeu um erro, retirando LAS HIJAS DE ABRIL, de Michel Franco, da competição e escolhendo um documentário totalmente desconhecido. Trocou o certo (um filme muito bem recebido em Cannes, embora eu não aprecie tanto esse cinema masoquista que Franco nos oferece) por um duvidoso. É uma aposta, digamos arriscada.

Mas voltemos ao Brasil: Dos 23 títulos inscritos para representar o país em Los Angeles, três se destacam na dianteira, sendo o filme de Selton Mello, O FILME DA MINHA VIDA, o favorito. Os outros são BINGO – O REI DAS MANHÃS (de Daniel Rezende, que representará o Brasil no Goya, o “Oscar Espanhol”) e COMO NOSSOS PAIS (de Laís Bodanzky, minha escolha pessoal). Qualquer um dos três, cada um com sua particularidade ou gênero, se escolhidos, fariam bonito numa premiação. O problema é, além da (forte) concorrência pela (virtual) vaga latino-americana, o fato de exceto pelo filme de Bodanzky, nenhum dos outros dois títulos tem carreira internacional, nenhum Festival, nenhum lançamento comercial no estrangeiro, mesmo o filme de Selton Mello que tem Vicente Cassel no elenco sequer tem lançamento programado na França. Isso é grave? Não, não é, só torna o caminho para o abençoado TOP9 da categoria de Filme Estrangeiro mais tortuoso, mais custoso, mais desgastante. Surpresas existem, o grego DENTE CANINO e o geórgico A ILHA DO MILHARAL que o digam, mas é raro, bem difícil.



COMO NOSSOS PAIS, de Laís Bodansky


Um filme que pretende disputar o Oscar de Filme Estrangeiro, precisa ser universal, compreensível no mundo todo, uma história que converse com diferentes povos, em diferentes linguagens e, claro, extraordinariamente bem filmado. O sucesso, a tal carreira internacional, se constrói a partir dessa legenda. Os filmes de Daniel e Selton, sim, são sucessos indiscutíveis, mas exclusivamente no Brasil. Por outro lado, COMO NOSSOS PAIS, seguindo a tendência do nosso cinema, nesse gênero de “Classe Média Blues”, fez carreira em Berlim, e de lá, já foi para a França, Holanda, Polônia e Turquia. É comercialmente viável e tem algo a mais que justifica sua exibição nesses países. E já sabemos o porquê, pois fala de família, feminismo e fatos da vida. Não é pouco. Arriscaria aqui, embora já saiba que O FILME DA MINHA VIDA seja o grande favorito para representar o Brasil.

Seja lá qual for o título escolhido, dia 15/09, saibam que o caminho será extremamente tortuoso. Hoje, na dianteira estão a Palma e o Urso de Ouro (O leão se reserva o direito de competir na categoria principal do Oscar). De um lado, THE SQUARE, de Ruben Östlund, que por FORÇA MAIOR foi esnobado em 2015, mas agora retorna com tudo, nessa comédia que emula UM POMBO POUSOU NUM GALHO PARA REFLETIR SUA EXISTÊNCIA, mas de uma forma mais POP, mais contemporânea, diria comercial, e ainda com Elisabeth Moss no elenco, a virtual vencedora do Emmy pelOS CONTOS DA AIA. É tentador demais. Do outro, DE CORPO E ALMA, Ildiko Enyedi nos entrega uma história de amor. Uma história de amor que é um pouco sobre todos nós, que transita pelo mundo, a realidade e os sonhos. E essencialmente fala de afeto. Um poema irresistível. Outro contender fácil.



DE CORPO E ALMA, de Ildiko Enyedi, Urso de Ouro em Berlim e Representante da Hungria


Depois, temos medalhões fáceis em disputa: A Áustria escolheu um FINAL FELIZ para Michael Haneke, um cineasta que sistematicamente vem sendo indicado, não só por Filme Estrangeiro, mas em outras e diversas categorias. A Alemanha mirou Diane Kruger, o que ela faz no filme de Fatih Akin, e submeteu o óbvio, IN THE FADE. A Noruega arrisca no gênero, no cinema de autor, um toque de terror e LGBT e vai de THELMA, de Joachim Trier e, claro, o que dizer dessa MULHER FANTÁSTICA que Sebastián Lelio filma, desse retrato de humanidade que Daniela Vega faz, ao ponto de ser pleiteada, inclusive, para Melhor Atriz?

Há mais… A França está em compasso de espera, 120 BATIDAS POR MINUTO. A Rússia está em LOVELESS, mas morta de amores por Andrey Zyvagintsev. A Argentina está entre LA CORDILLERA e ZAMA, a cruz e a caldeirinha, a Espanha imersa em nostalgia, em algum lugar de SUMMER 1993. Sem falar, no Irã, atual vencedor do Oscar, que deve indicar A MAN OF INTEGRITY, isso se não houver algum “Petrucelli irariano”. E é bom ficar de olho ainda na Itália (A CIAMBRA?), Bélgica (LE FIDÈLE), Israel (THE CAKEMAKER?), Bósnia (MEN DON’T CRY), Bielorrússia (A GENTLE CREATURE?) e Líbano, cujo cinema de Ziad Doueiri, pelO INSULTO, segue o mesmo efeito dominó que o cinema de Asghar Farhadi. Ou seja, talvez o FILME DA MINHA VIDA no Oscar2018, não seja brasileiro, mas não importa. A disputa está bem acirrada e quem ganha é o cinema.

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