Cozinhar F*der Matar

COZINHAR F*DER MATAR… a estranheza do título sugere um fluxo absurdo. De tempo. De espaço. De gêneros. As cenas se encadeiam como um sonho. Uma (des)ventura ruim dita por moiras fiadeiras, senhoras de aspecto sinistro, grandes dentes e longas unhas que surgem do nada em trajes de banho e moletons encarquilhados para ali, no lago, na academia ou no supermercado, apenas zombar do destino. As profetizas de um galo e uma galinha que foram colher nozes, as bruxas que levam um sapo a agarrar as barbas de um rato, rindo e rindo, enquanto nós, o público, presos nesse limbo, tragados por esse filme sem fim, giramos em círculos, ao redor de uma mesa, indo e vindo com os personagens que não se divertem, apenas fiam, medem, cortam e perambulam nosso tempo em pedacinhos.

Também é o inferno, uma versão absurda (e não linear) de violência doméstica, isso ao extremo, na mesma escolinha pornô degradante de Ulrich Seidl e Philip Gröning, aqui a história de um homem (ou mulherzinha?) chantageado pela esposa, humilhado pelos pais, ridicularizado pelos sogros, e a mesma historia se repetindo, dia após dia, num eterno dia da marmota, donde o jogo (ou prisão) é reviver os padrões e de novo e de novo e de novo com pequenas alterações, como se o efeito borboleta por si só fosse suficiente para quebrar o ciclo, mas não o é porque a diretora, Mira Fornay, a deusa Cloto dessa balburdia, tece cada frame com mãos habilidosas, esse crochê de eventos e vai e vem e esconde e esconde, donde o fim sempre é o mesmo para vítimas e opressores, ame ou deixe.

Um cinema que exige certa persistência e humor cáustico para encarar diante de tantas encenações, os relacionamentos tóxicos, o conto incoerente, a “jornada do herói” em busca de alguém para cozinhar, mas que aos poucos faz (algum) sentido. Só não sei se isso importa porque o filme (ou meu interesse) já se foi, se perdeu como as chaves da vovó, como o pobre sapinho a agarrar as barbas de Blanka lá embaixo no laguinho, ali meus olhos já reviraram, ali a louça se quebrou e ali, pulei na piscina para finalmente quebrar o ciclo.

RATING: 59/100

TRAILER

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REVIEW · MOSTRA SP · ROTTERDAM

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