Piccolo Corpo

PICCOLO CORPO è tutto grazia e disgrazia, atos preciosos e atos covardes, um nó infinito donde os homens não entendem (e quem entende?) e, portanto, não é nada, uma fumaça, um pouco de terra, o deleite de uma luz, o Sol por qual Laura Samani filma um pequeno tesouro em uma caixa – uma graça e uma desgraça – e vai-se um milagre. E por tal milagre, esse filme de passagem que começa num respiro e vai, vai longe em busca de um último suspiro: “va la disgrazia, entra la grazia, disgrazia vadia, entra Maria”, entoam as mulheres, mães, avós, tias, meninas, em torno de Agatha, a graça – che bello, murmuram baixinho – e ela caminha pela praia, sozinha, somente ela e sua filha que vinda, as vozes em graça com as ondas, o sangue em desgraça com a água. E o público? Completamente sem fôlego, afogado nesse cinema bravio.

Então, a narrativa caminha em 1900, rumo ao Santuario della Madonna di Trava. É ali que se opera os milagres, donde as crianças natimortas podem ser trazidas de volta à vida pelo espaço de uma respiração. Um prodígio necessário para batizar esses bebês que, de outra forma, seriam enterrados em lugares “não consagrados”. Sem o batismo, eles nunca poderiam ter um nome ou uma identidade; suas almas vagariam eternamente pelo limbo. E pela filha natimorta, o “pequeno corpo” inerte do título, que a protagonista faz sua via-crúcis seguindo seu instinto e sem contar a ninguém, ela em uma viagem solitária e uma pequena caixa.

Um filme todo de mulheres, não atrizes, aos confins do desconhecido, onde se abandona suas raízes, se arrisca à barbárie, aos homens, tantos ladrões. Em mente, sempre o desejo consciente de dar um nome à criança para libertá-la, mas também uma forma subliminar de prolongar esse estado de simbiose entre mãe e filha, quase uma espécie de continuação da gravidez em que o bebê é transferido do estômago às costas, tornando-se um peso (um luto?) para os ombros. Tal viagem é física, a interpretação de Celeste Cescutti idem, mas torna-se cada vez mais transcendental. É o preço que se exige ao subir às montanhas, a troca entre a graça e a desgraça, os vivos e os mortos, o amor e a dor, e é curioso como tais sentimentos (ou sacrifícios) não se encontram só em milagres ou orações, ou no dogma que divide o paraíso, inferno ou limbo, mas em uma linha tênue, quase de um realismo mágico, mas muito, muito sutil. Somente um sopro, um suspiro e a tal esperança para novamente olharmos esse “Mar” e ali, agarrados nesse pequeno filme, finalmente submergir nas águas e nos afogar em lágrimas, graciosamente.

RATING: 76/100

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REVIEW · CANNES · TIFF

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