A Qualquer Custo


Um filme de dois irmãos; Na tela, Chris Pine e Ben Foster; No espírito, Joel e Ethan Coen. Uma pitada de FARGO nessa terra dONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ. Um roubo ao banco, depois outro, e mais outro, a impressão de se jogar GTA5 nos confins dos EUA, nessa tela gigante que David Mackenzie filma como se fosse um antigo faroeste, mas na verdade é uma grande caçada, estilo gato e rato. Na mente, velhas referências, filmes da década de 70 e 80, tais como AGARRA-ME SE PUDERES, DESTA VEZ TE AGARRO, QUEM NÃO CORRE VOA, todos com Burt Reynolds, seu chapéu de Cowboy e, claro, um xerife em seus calcanhares, a poucos metros, mas nunca o suficiente, porque os bandidos são mais espertos (ou sortudos). Então, voilá, PRENDA-ME SE FOR CAPAZ e, sim, estamos presos nessa diversão.

A inspiração remonta aO GRANDE ROUBO DO TREM, idos 1903, sua atmosfera, seus confrontos, a eterna luta entre os homens, isso no ermo americano, no deserto visceral, muscular, extremamente cru ou, então, nas vilas de ninguém, nos famigerados cassinos, na COMANCHERIA que o titulo exalta, mas aqui numa roupagem modernista, nessa visão que borra as fronteiras entre o Velho e o Novo Oeste, entre os mocinhos e os bandidos, senão as próprias vítimas, os bancos, diria os mais cruéis nesse western selvagem.

E todos os personagens na encruzilhada: No fim da estrada, fazendo eco na historia, assombrando cada cena, impregnando as paisagens de humor (negro) e (redentora) intimidade e desse equilíbrio, pela projeção e poeira afora, vemos o cinema americano, tantos gêneros, a farra do século 21 e também uma ode à fraternidade e lealdade familiar, a elegia aos sonhos perdidos e roubados, um retrato de valores e seu crepúsculo. Isso numa geração donde tudo muda e rapidamente: A terra. O espaço. As pessoas perdidas nessa erosão. Nos silêncios. Nas sentenças.

O roteiro é de Taylor Sheridan, conhecido por SICÁRIO e FILHOS DA ANARQUIA. E o tom não poderia ser outro além de um filme de roubo, de amigos, de estrada, ao final também de um drama familiar. E por essas águas turvas e corrediças, logo se vê as tensões aflorando, os tiroteios, os abusos, o esmaecer do Velho Oeste e seus valores, o desmembramento das famílias e da sociedade, o desejo de fazer justiça com as próprias mãos. Um pouco dO HOMEM QUE BURLOU A MÁFIA, de uma narrativa que nos remete a Don Siegel e Hal Ashby, senão aO ÚLTIMO GOLPE de Michael Cimino. E de tantas (boas) referencias, de um elenco afiado, de um delicioso (e derradeiro) bang-bang, o resultado não poderia ser diferente: Um filme pipoca à moda antiga.

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Sierra Affinity, incluso trechos da entrevista com David Mackenzie
RATING: 78/100

TRAILER

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FILMES · CANNES

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