MA LOUTE é teatro. É burlesco. E é delicioso. Uma comedia pastelão, de sotaque carregado, gestos elaborados. Extremamente colorida e ainda assim tão negra comO PEQUENO QUINQUIN. Um retrato fidedigno dA HUMANIDADE, mais leve, menos cruel, um toque de Agatha Christie ou, talvez, Jacques Tati. Um filme carregado de impostação, de grafismos, de uma deliciosa província e mistério que nos intriga. Ou ao menos nos deixa (bem) curiosos.
Então, de volta ao passado, ao que achamos que é passado, às cores pasteis, a temperatura calorosa, uma lufada de hiper-realismo e um pouco de modernidade. Voltamos ao cinema de Max Linder, Dino Risi e Ettore Scola, o sentido cômico da burguesia francesa, os esquetes do gordo e o magro, aos corpos que caem, e caem e caem, senão rolam. Ou então voam. Um milagre. Sim, um cinema das origens, de um tempo donde a arte era basicamente comédias e farsas. Eis a origem do “Burlesque”.
E pela natureza humana, o cineasta filma a complexidade de cada personagem, a duplicidade do homem capaz de qualquer coisa e de tudo, e, portanto, um conto engraçado e assustador, pungente e ofegante. E no centro, a mistificação romântica, um caso de amor, dois jovens de duas famílias completamente incongruentes. Canibais e incestuosos, ambos os clãs são monstruosos, cada qual à sua maneira. Há também uma pitada de investigação policial que alimenta a história de suspense e mistério. E certamente um pouco de música para a emoção grandiosa e imediata.
A sensação é de completo excesso e fantasia. O elenco encarna isso muito bem, trajes e acessórios também. Tudo é vintage, um pouco absurdo: Fabrice Luchini é um corcunda, torcido literalmente. Didier Despres encarna um inspetor enredado por seu imenso traje. Valeria Bruni Tedeschi está toda espartilhada, muito rígida quase que tocada pela graça. E claro, Juliette Binoche extremamente aérea (ou alcoolizada?) no tom de esnobismo e exuberância. Todos têm seu momento. E nós, o público, certamente temos o melhor momento de todos.
RATING: 77/100
TRAILER