Walt Disney não viu o primeiro MOGLI. Não viu as desventuras do menino lobo, Baghera e Ballo. Não marchou com o Poderoso Batalhão. Não desafiou os encantos de Kaa. Tão pouco esteve diante da Corte do Rei Louie. Na verdade, morreu um ano antes, provavelmente diante dos esboços e rabiscos, das letras e melodias de “Somente o Necessário”, de um longo abraço de sua esposa Lilian e a última visão do estúdio para o qual tanto trabalhou.
MOGLI veio depois, no que chamam de “Idade das Trevas da Animação” (ou ao menos o que se tornou o estúdio Disney nos anos 70). Os desenhos claramente relaxados, a animação um tanto repetitiva, as canções pouco inspiradas. Mesmo assim, o filme, baseado em velhos contos de Rudyard Kipling, se tornou um modesto sucesso. Um conto de “Coming Age”, de um menino em busca de sua identidade, diante da selva de sua adolescência e assim até o episódio final, a aldeia dos homens, não à toa, com a doce Shanti a sua espera, nos encantando com sua melodia, sua inocência e malicia, um pote de barro para separar meninos de homens, do que foi a infância e do que será a vida adulta, dos amigos de outrora do que será seu novo interesse. Um conto nada memorável, mas que se tornou especial para a (nossa) história por seus belos personagens.
E agora, revividos por Jon Favreau, num filme de carne, osso e CGI. Os mesmos personagens, uma outra história, mais moderna, mais contemporânea, diria mais sombria. Nenhum resquício do Coronel Hathi (Apenas uma manada de animais soberanos para se cortejar). Uma cobra gigantesca, nem sombra da divertida Kaa, mas uma sedutora (ou maligna) predadora que antes de armar sua armadilha, decide por contar uma história ou amarrar esse roteiro solto. Depois, um temível Rei Louie, nada do Rei do Iê-Iê-Iê de outrora, mas um ser oculto pela escuridão, ávido desta flor de fogo, não se sabe porque, nem o porquê. Pelo poder? Qual poder?
E ao fundo, o mesmo “buddy movie” de sempre, mas por outras motivações. O tema de “coming age” foi cortado. Shanti foi cortada. Shere Khan se torna a essência do mal, um ser maligno sem qualquer outra motivação além de sua própria obsessão contra os homens, especialmente por esse menino lobo, sim, em busca da identidade, mas não pelo crescimento em si, apenas pelo uso de velhos truques. E nesse sentido, o filme nos remete a outros clássicos Disney de tema similar, à relva que antecede a morte da mãe do BAMBI. O grande incêndio da floresta pelo qual Bambi encerrou seu filme. Mesmo dO REI LEÃO, vemos “o círculo da vida” em torno da pedra da paz, a fuga através dos bisões. Sim, tudo magistralmente filmado nesse “parkour” pelas selvas, mas falta algo… Falta essência. Falta Disney. E Disney está morto. Já estava no primeiro filme. Continua agora. Nada a acrescentar. “Somente o necessário”.
RATING: 68/100
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BÔNUS