PECADOS ANTIGOS, LONGAS SOMBRAS e um mistério do começo ao fim. Primeiro o desaparecimento de duas jovens, depois o rastro dos fantasmas que envolve drogas, prostituição e um pouco de sadismo. E isso nos anos 80, em uma terra esquecida e congelada no tempo. O pântano moral, donde todos querem fugir e a qualquer preço. Os campos de arroz e o nada, talvez alguma caça.
Na tela, um filme-investigação, senão a rotina de dois policiais e o enorme quebra-cabeças que se propõe, isso sem quaisquer meios além de um automóvel e algumas perguntas. Um pouco de dedução e Noir. E assim, aos poucos, uma trama cada vez mais intensa, acerca do suspense e das motivações de cada um. Sim, um corte clássico, em termos de pesquisa e desenvolvimento, mas com um mar denso, pantanoso e impenetrável ao fundo. Vestígios da Gestapo, desse cenário encarquilhado donde se prostra a humanidade, ali na cruz dos “carabineros”, donde se reza e se esquece, se promete e se finda o mundo e donde nada é o que aparenta ser, nessa comunidade isolada, opaca e dobrada sobre si mesma.
A investigação prossegue estagnada, lenta. Tudo é resignação e desconfiança, enquanto os protagonistas vivem a expiação dos seus pecados, seu passado, seu futuro, ali, nessa “Isla Mínima”, o purgatório-crepúsculo de uma era que o vento levou. E ao diretor, Alberto Rodríguez, coube se inspirar no passado, em filmes antigos de Ladislao Vajda (EL CEBO), Roman Polanski (CHINATOWN) e Joon-ho Bong (MEMÓRIAS DE UM ASSASSINO) e, com eles, criar sua “True Detective”, ali no ermo, donde a riqueza e o poder vivem com a dor e a miséria, fruto de um árduo passado político e social, a gênese de uma nova história que divide duas Espanhas, a de ontem, a de hoje, Franco entre elas. E dessa tensão latente, como um ranger de dentes, surge uma atmosfera árdua, magnética, mesmerizante, que corta o horizonte em gigantescos e sufocantes planos. Ideal para um crime sombrio e cruel. E assim o é: Elementar. Mínimo. Soberbo.
RATING: 69/100
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