Dôssie Oscar 2009: Melhor Curta-Metragem

Com a entrega do Oscar a apenas duas semanas de distância, é possível que a antecipação dos espectadores já esteja misturada a certa dose de fadiga. Desde o começo do ano, alguns poucos filmes “Muito Importantes” e “Muito Sérios” sugaram todo oxigênio do mundo do cinema. E você talvez sinta que precisa de alguma folga diante da histeria induzida que cerca “O Curioso Leitor de Milionário Milk/Nixon”.

Um perfeito antídoto para essa parada de elefantes brancos pode ser encontrado, paradoxalmente, no programa dos curtas de ficção indicados ao Oscar. Pode parecer estranho propor uma categoria de indicados ao Oscar como antídoto para as demais, mas os cinco curtas que disputam o prêmio exibem algumas virtudes que suas contrapartes longas não oferecem.

Não se trata apenas de brevidade, ainda que o programa completo dure menos do que o tempo que Benjamin Button demora para chegar da velhice à infância. O provincianismo que em geral caracteriza as escolhas de Hollywood para a disputa do prêmio de Melhor Filme – parcialmente negado este ano pela presença de QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO? – não existe no que tange aos curtas.

Os indicados refletem o espantoso fato, quase despercebido na cerimônia de autoelogio que a Academia promove a cada ano, de que o cinema é uma forma de arte internacional. As regras e restrições absurdas que regem a seleção dos indicados a Melhor Filme Estrangeiro parecem não se aplicar à seleção de curtas, que vêm de todos os cantos do mundo, e às vezes incluem mais de um representante por país.

Há uma charmosa animação russa (LAVATORY LOVESTORY, de Konstantin Bronzit) e uma sombria meditação pictórica japonesa sobre a passagem do tempo e a mudança do clima (A CASA DOS PEQUENOS CUBOS, de Kunio Kato). Há a história de um imigrante irlandês (GREEN BOY, de Steph Green), uma elegia lírica dedicada a uma jovem (MANON ON THE ASPHALT, de Elizabeth Marre & Olivier Pont) e um solene estudo suíço sobre a culpa (ON THE LINE, de Reto Caffi).

Há alguns temas recorrentes do Oscar, como um sóbrio drama sobre o Holocausto (TOYLAND) e uma animação engraçadinha da Pixar (PRESTO, que acompanhava WALL-E nos cinemas). Ainda que esses temas e produções pareçam familiares, o fato de que surjam em um contexto mais amplo e cosmopolita os refresca.

De fato, os curtas do Oscar oferecem um retrato mais preciso e completo sobre a situação do cinema do que os longas. Os curtas não chegaram ao mundo envoltos em prestígio e em divulgação obsequiosa, e oferecem doses concentradas de engenhosidade visual e disciplina narrativa. Nem todos são obras-primas, aliás, mas cada um deles justifica o modesto investimento de atenção que assisti-los requer.

Os mais interessantes dos curtas convencionais – NEW BOY e o dinamarquês THE PIG – são excursões concisas e bem humoradas às complicadas realidades contemporâneas. Ambos lidam com os problemas dos jovens que crescem na Europa multicultural, e o fazem de maneira mais sardônica que didática. Em lugar de ensinarem lições sobre a tolerância, eles demonstram o quanto essas lições podem ser complicadas – para quem ensina e para quem aprende.

Já os curtas de animação exploram, em lugar do realismo e do conhecimento local, a universalidade da linguagem cinematográfica. Os cinco (THIS WAY UP, da Inglaterra e OKTAPODI, da França, completam o programa) empregam diversas técnicas visuais, tanto tradicionais quanto inovadoras, mas o traço comum que apresentam é a ausência quase completa de diálogo, e oferecem um lembrete de o quanto as imagens podem ser expressivas e comoventes. LAVATORY LOVESTORY, um arranjo de linhas negras sobre uma tela branca, com alguns poucos e judiciosos toques de cores brilhantes, é um charmoso poeminha romântico, perfeito em suas proporções reduzidas.

O filme provavelmente levaria meu voto, e o mesmo vale para NEW BOY, baseado em um conto de Roddy Doyle. Nos dias anteriores aos cinemas multiplex, os curtas eram parte da programação das salas comerciais, enquanto hoje quase só se pode vê-los em festivais. A Internet tem o potencial, ainda não realizado, de levar esses trabalhos a audiências que dispõem de pouco tempo. Assim, embora os curtas do Oscar sejam uma atração menor em meio a todo o marketing, para aqueles cujo interesse pelo cinema vai além do tapete vermelho é neles que a verdadeira ação está concentrada.

Melhor Curta-Metragem
AUF DER STRECKE (ON THE LINE) | Reto Caffi | Suiça
MANON ON THE ASPHALT | Elizabeth Marre & Olivier Pont | França
NEW BOY | Steph Green & Tamara Anghie | Irlanda
THE PIG | Tivi Magnusson & Dorte Høgh | Dinamarca
SPIELZEUGLAND (TOYLAND) | Jochen Alexander Freydank | França

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Por A.O.Scott (New York Times) especial para o Spoiler Movies

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