Tradicionalmente, chama-se “Montagem” (do francês “Montage”) o que em televisão leva o nome de “Edição”. Com as mudanças tecnológicas e o uso de computadores estilo AVID para finalização não-linear dos filmes, a tendência é chamar tudo de Edição (ainda mais porque em inglês é “Editing”).
De qualquer forma, é na Montagem que é dado o ritmo do filme, que deve ser o mais adequado ao tipo de história que está sendo contada. Nem sempre o mais rápido é o melhor, mas os sócios da Academia são capazes de reconhecer a grande contribuição artística dos montadores, que muitas vezes salvam os filmes. Esta categoria leva em conta também, o trabalho do editor de dar seqüência e harmonizar as cenas, até que o filme esteja completamente montado. Lembrando que um filme tem muitas horas de gravação, além do que se vê na tela. Por isso, é preciso compilar todo o material das filmagens. Responsabilidade do editor.
Com frequencia o prêmio vai para blockbusters, ou para o próprio melhor filme do ano (dramas tradicionais têm menos chances). A tendência atual, porém é confundir edição com finalização, ou seja, o editor ajuda a controlar, com o diretor, todo o processo de pós-produção.
Um bom exemplo de edição, seria o nosso CIDADE DE DEUS que concorreu em 2004. A sinergia entre o editor Daniel Rezende e o fotográfo Cesar Charlone estão em “state of the art” nesse filme. Tudo porque na edição final, decidiram manter três estilos – ou épocas – diferentes, como no roteiro. A primeira parte nos anos 60 tinha o som do samba, evocava uma criminalidade romântica, foi rodada num estilo mais clássico, usando lentes (32 a 65mm) e enquadramento tradicionais. A segunda parte, nos anos 70, que conta a história de Zé Pequeno, tem muita cor, uma câmera mais livre, uma montagem mais solta. Tem também um clima de maconha, o som repleto de pop, samba, funk. A fase final é a de guerra pela droga, a história de Mané Galinha. Então muda também o visual, que agora é frio, agitado, montagem picada, onde vale tudo, cortes bruscos, movimentos chicote de câmera, fora de foco, um ritmo mais agitado, como se fosse feita por um pesadelo de cocaína. Tudo para provocar tensão, sufoco, frenesi. Esse ano, a categoria traz concorrentes experientes mesclados com novatos. Eis os indicados ao Oscar 2009 de Melhor Edição:
QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO? | Chris Dickens
Resenha | Site Oficial
Um jovem de um bairro pobre de Mumbai, cidade da Índia, decide participar de um programa de perguntas e respostas na televisão. Mesmo sendo analfabeto, ele surpreende a todos ao ganhar o jogo, o que levanta suspeitas de que pode ter trapaceado. O que o rapaz queria, no entanto, era apenas reconquistar a garota que ele ama
Histórico
Essa é a primeira indicação de Chris Dickens ao Oscar. Ele repetiu a indicação no Eddie, o Prêmio do Sindicato dos Editores.
A Técnica
O cinema hiperativo do diretor Danny Boyle parece ter sido talhado à perfeição para platéias jovens. A edição frenética de Chris Dickens move-se basicamente por uma vontade inabalável de quebrar regras à velocidade da luz. Sua montagem é um caleidoscópio semelhante ao de Daniel Rezende em CIDADE DE DEUS. Há, inclusive, uma cena de perseguição dentro da favela quase idêntica à famosa abertura com a galinha do longa de Fernando Meirelles.
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O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON | Angus Wall & Kirk Baxter
Resenha | Site Oficial
Benjamin Button tem uma característica incomum: Nascido com oitenta e poucos anos, ele rejuvenesce a cada dia que passa. Ainda assim, é um homem como qualquer outro, que não pode parar o tempo e precisa percorrer seu caminho, vivendo a sua história ao lado das pessoas que conhece e os lugares que freqüenta durante a sua jornada. Mas sua história é, principalmente, sobre o amor, e a dificuldade de estar ao lado de uma bela mulher, que envelhece enquanto ele fica mais jovem a cada dia.
Histórico
São as primeiras indicações de ambos os editores. Eles repetiram a indicação no Eddie, o Prêmio do Sindicato dos Editores.
A Técnica
O roteiro de Eric Roth é engenhoso e, aliado a uma montagem precisa, mas um tanto tradicional, consegue transpor com fluidez e clareza os saltos temporais e narrativos, já que o filme é contado em flashbacks. A montagem, no entanto, ousa numa cena onde pequenas coincidências e atos contribuem num acidente de carro que dá uma reviravolta no roteiro. É montada com takes rápidos e curtos, diferente do resto filme.
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MILK – A VOZ DA IGUALDADE | Elliot Graham
Resenha | Site Oficial
A vida de Harvey Milk, o primeiro político assumidamente homossexual na história dos Estados Unidos. Nos anos 70, ele foi supervisor da prefeitura de San Francisco, sendo assassinado em 1978 junto com o prefeito George Moscone.
Histórico
Essa é a primeira indicação de Elliot Graham ao Oscar. Ele repetiu a indicação no Eddie, o Prêmio do Sindicato dos Editores.
A Técnica
O uso do som chama a atenção na edição de Elliot Graham. Ele usa a trilha sonora como guia para os cortes de imagem. Em muitos momentos, é a entrada do áudio da cena seguinte que sinaliza ao público a proximidade do corte. Um efeito muito interessante que cria uma intensidade dramática no momento-chave do filme, quando retira de cena o áudio original e preenche a banda sonora com um trecho da ópera de Puccini, exibida como espécie de premonição trágica antes do derradeiro final.
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FROST/NIXON | Daniel P. Hanley & Mike Hill
Resenha | Site Oficial
Em uma série de entrevistas no programa de TV apresentado por David Frost, o então presidente americano Richard Nixon acaba por assumir a culpa pelo escândalo de Watergate.
Histórico
Daniel P. Hanley & Mike Hill são, ambos, os mais experientes da categoria. É a quarta indicação deles ao Oscar. Ganharam em 1995 com APOLLO 13 e foram indicados em 2001 com UMA MENTE BRILHANTE e em 2005 com A LUTA PELA ESPERANÇA. Seu trabalho foi também reconhecido pelo Sindicato dos Editores com uma indicação para FROST/NIXON
A Técnica
É uma montagem simples, mas eficiente. Sabendo que não poderiam mostrar todo o desenrolar das entrevistas (que duraram quase 20 horas), os editores selecionaram os momentos mais importantes, enfatizando a passagem de tempo através da maquiagem dos assessores que vão ficando progressivamente mais suados e descabelados. Um trabalho sútil de compilação que surte grande efeito dramático.
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O CAVALEIRO DAS TREVAS | Lee Smith
Resenha | Site Oficial
Com a ajuda do tenente Gordon e do promotor Harvey Kent, Batman busca combater o crime organizado, que agora conta com a ajuda do Coringa.
Histórico
É a segunda indicação de Lee Smith ao Oscar. Ele disputou a mesma categoria em 2003 com MESTRE DOS MARES. Também concorre ao Prêmio do Sindicato dos Editores
A Técnica
Lee Smith monta intencionalmente as sequencias de ação de forma apressada e confusa, às vezes impedindo o público de entender exatamente o que está ocorrendo. Esse detalhe, aliado à escuridão e à velocidade da edição, complica a vida da platéia. Claro que este era o objetivo do filme: O editor faz com o público exatamente o que o Coringa faz com o Batman
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O Oscar de Melhor Edição…
Há duas unanimidades aqui: A comercial que viabiliza o blockbuster O CAVALEIRO DAS TREVAS ao Oscar e a artística que credencia QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO? à estatueta. Diante do gigantesco clamor em favor da fita de Danny Boyle e como, geralmente, o Melhor Filme leva Melhor Edição, então é muito provável que Chris Dickens leve o Oscar de Edição.
Os outros (BENJAMIN BUTTON, MILK e FROST/NIXON) concorrem principalmente porque foram indicados ao Prêmio principal. É um tradição da Academia. Repare que O LEITOR não foi indicado, o que o torna mais fraco ainda na disputa de Melhor Filme.
Colaboração da Explicações Técnicas: Rodrigo Carreiro (CINEREPORTER)