Que diable! Qu’est-ce que c’est, Godard? IMAGEM E PALAVRA é conceito e palavras, cinema e prosa. É tudo e nada. Perguntas e respostas. Fascínio e desconcerto. Pode ser folheado como uma estranha viagem, uma jornada até o fim do mundo, um biscoito, a religião, alguma filosofia ou arte existencial. Pode ser um filme, vários filmes reunidos, um labirinto sensorial desnorteante, uma balada magistral de sons, cenas, figuras e total niilismo, algo sobrenatural na melhor das hipóteses, ou um engano a ser corrigido na pior. É a vida e sua própria morte. O big bang, a criação do cosmos, a gloria desconcertante ou o constrangimento profundo. Um ataque aos olhos, aos ouvidos, ao tempo. É Godard, não tenha dúvidas.
É o descaso, também. Em Cannes, o diretor não foi. No tapete vermelho, só vieram os produtores. Na Coletiva de Imprensa, os jornalistas se espremeram diante de algum celular, para um streaming distante. O filme não tem atores, história, praticamente nada. Na Sala de exibição, de uma sessão lotada, o público diante do choque, dessa videoinstalação que flerta com o experimental, o desconhecido, FILM SOCIALISME e ADEUS À LINGUAGEM, foram abandonando um a um, primeiro discretamente e depois em manada a sessão. Sim, o “cinema está morto”. Está em guerra, essas ovelhas são as baixas casuais. No escuro, restam as imagens. Esse estranho suceder de ideias em movimento, sons desconcertantes, palavras entrecortadas.
Há lapsos, apagões, musica vez ou outra. O volume se amplifica, nos acorda do estupor enquanto os slides prosseguem num eterno zapzap, nessa ladainha de significados distantes, imagens saturadas de brilho e cor, nítidas ou não, reunidas num estranho amálgama de transições lentas, slow-motion e algum barulho. Não é de certo novidade. O húngaro György Pálfi fez algo parecido com SENHORAS & SENHORES – CORTE FINAL em 2012 e, um pouco além, Christian Marclay ensaiou o cinema e as horas em THE CLOCK em 2010. O detalhe, aqui, é Godard. E sobre seu gênio, não há polêmicas. Isso cabe ao seu filme.
RATING: 65/100
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