Mektoub: My Love – Canto Uno


Numa dimensão sagrada, em fogos de artificio e canto extravagante, Abdellatif Kechiche restitui ao cinema, a sensação de participar de uma cerimônia. E o faz em exsultate, iubilate e alleluia, na pura combinação da juventude e verão, no (en)canto de um gênio no auge de seus poderes, no melhor de sua imaginação. E por essa ilusão, no furor e no clímax, no êxtase incontrolável e no controle absoluto, tal qual Mozart um dia compôs, ele filma seu “Alleluia” infinitamente elaborado, o recital ensolarado do jovem Amin, cheio de vida e interesses, ali, no deslumbre de seus tempos dourados, diante da família e dos amigos, indo e vindo pelos bares, restaurantes e as praias, encantado pelas mulheres, pela euforia dionisíaca, a luz do Mediterrâneo. Eis o filme, o hino, os amores e MEKTOUB. A utopia de um cinema que se vendeu pelas Palmas, o espetáculo, mas que resiste conosco no brilho nostálgico de um CINEMA PARADISO qualquer.

E por esse MEKTOUB (o “destino” em árabe), o cineasta filma livremente, com poucos recursos, apenas um cinema que conte historias e desperte a alma, nesse cântico inesperadamente calmo e independente de seu nascimento, origem, carreira ou política. Apenas o pensamento e sentimentos. Não um filme biográfico, mas cuja personalidade respira através de seus personagens. E isso é tudo. É pleno. É o destino, a natureza do bem e do mal, suas ambiguidades.

Também um filme anarquista, no mais nobre sentido da palavra. Um filme, tal qual a juventude, destinado a quebrar as cadeias da hierarquia. Um discurso à liberdade, uma reflexão sobre o destino e como o livre arbítrio de um indivíduo têm repercussões na família ou, mais amplamente, em uma nação. E, inversamente, se as decisões tomadas a nível estadual têm impacto nos grupos e indivíduos. Ação e reação. Causa e efeito… O cineasta filma em busca da verdade, dessa fissura na sociedade, suas origens, e retrata a França, não como um país branco, mas uma nação multicultural e religiosa.

Sim, igualmente uma ode à beleza, à euforia, ao presente, mas principalmente à liberdade de pensamento e sempre através do protagonista, seu olhar, seu sorriso, seu corpo… tudo tem início e fim nele. E o filme se impregna desse jovem e sua juventude. Suas impressões e desejos. Sob a película, vemos um homem em sua plenitude e seu orgasmo com o mundo, o outro, o tempo. Seu filme é sexo, o cântico e o jubilo de almas abençoadas, na música e na dança, tanto nas nuvens quanto na tempestade. É a aurora. O consolo. O desejo. Aleluia. Aleluia…

(*) Crônica livremente inspirada do material cedido pela Vision Distribuiton, incluindo notas do Diretor e trechos de “Exsultate, jubilate”, de Mozart
RATING: N/T

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VENEZA · PREVIEW

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