Barbara

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É Paris. Você sente pela névoa, os prédios, o longo caminhar pela Point Neuf através do Rio Sena. Ela caminha devagar. Respira esse ar parisiense. Quase em slow motion, BARBARA abre numa canção, em prece angelical, a voz aos poucos tomando a tela, o cinema, a sala de projeção… Estamos diante de Jeanne Balibar, da famosa Barbara Brodi e seu doce piano. Aos poucos, se ouve uma velha sanfona, o dedilhar de um violoncelo. A luz é delicadamente dosada. Tal concerto é mágica e êxtase. E ela canta quase num sussurro: “Je ne sais pas. Je ne sais pas. Je ne sais pas”.

Ali, vemos a composição de um mito, literalmente em música, mas também em cinema. Então, corte. Todo o ambiente se desfaz, o encanto se quebra, o estúdio invade esse refúgio com todos seus profissionais e maquinário. O diretor está satisfeito. Não será necessário outro take. E é nessa metalinguagem que Mathieu Almaric filma seu sonho, seu filme, e seu filme dentro do filme.

A atriz, a cantora, a protagonista se despe. Ela treme. Ela trepa. É aclamada, aplaudida. Em cena? Em filme? Na vida? Não sabemos… Temos apenas uma personagem, sua voz, suas canções, tantas partituras e gestos. Nesse altar, ela gasta noites inteiras ouvindo suas fitas, cavando a terra com as mãos, procurando algo, alguma coisa, para o êxtase, a apoteose. Sua música é inteiramente amor. A artista está apaixonada por seu ofício. Seu corpo, seus olhos, tudo dança e (en)canta, existe, plenamente, profundamente. E é assim por duas horas de projeção. De pedant variété que, aos poucos, transforma admiração em cansaço, deleite em tortura. Sim, tudo é maravilhosamente filmado, mas cansa. Como a artista. “Elle est fatiguée!”.

RATING: 66/100

TRAILER

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REVIEW · CANNES · RIO

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