Desses filmes que lhe surpreende sem saber ao certo qual gênero, qual tom seguir. De fato, é uma comédia norueguesa, o humor bem ácido, mas aos poucos vai flutuando para a comédia romântica, um pouco de MAMMA MIA, meio filme do Noah Baumbach – fase alegre. Daí surge o “NINJABABY” e tudo se anima ainda mais, essa animação não só como um personagem, esse cartoon-feto justiceiro, mas como estado de espírito para confrontar a protagonista, então há muita faísca, eletricidade e chuva saindo pela tela, meio que para “desenhar” para o público o que realmente sentir.
Yngvild Sve Flikke constrói toda uma pseudo-relação-discussão esquizofrênica entre a mãe e o bebê, a mãe e o(s) pai(s), esse dilema de ser (ou não) mãe, no começo até bem divertido – Oh Dick Jesus! -, mas aos poucos se tornando cada vez mais melancólico, não tão pesado como outros filmes sobre o tema, digo NUNCA RARAMENTE ÀS VEZES SEMPRE, 24 SEMANAS ou 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS, afinal é uma comédia, lembre-se, mas quase no limite do “estar deprimido” e há um episódio no hospital que frisa bem essa sensação, quando todos os rostos são borrados, o bebê se liquefaz e todo o arranjo de cena lhe oprime como um filme de terror, isso por quase 5 minutos de plena tensão.
A história é uma adaptação da graphic novel de Inga Sætre, “Fallteknikk”, e repercute o mesmo espírito “imprudente” do material original, um filme multiplot donde a protagonista acidentalmente engravida aos 30 anos, mas sem qualquer espaço para explorar as delícias da maternidade, pelo contrário, a ideia é enfatizar o inferno mental, uma jornada emocionalmente avassaladora sobre assumir a responsabilidade, crescer e ser capaz de passar por qualquer situação. É o medo de se tornar mãe, para qualquer mulher e, por sua vez, o sentimento de cuidado e amor que se desenvolve através de uma gravidez de diferentes maneiras.
Mesclar filme e animação, de certo não é novidade, VERÃO de Kirill Serebrennikov já o fez para “expressar” o punk e recentemente na própria Berlinale21, MEMORY BOX, de Joana Hadjithomas & Khalil Joreige usou a mesma técnica para exprimir nostalgia. Em NINJABABY, o recurso é mais bem utilizado, meio que para destacar o sentimento de culpa, o aspecto corporal da ansiedade e incerteza que vem com ela, também para equilibrar o humor com seriedade. O que o torna um filme mais para a geração jovem, meio o que JUNO foi. Fiquem de olho porque a carreira do filme é muito bonita, quase um consenso de crítica.
Outra coisa, destaque para Nader Khademi (dê um google), o personagem mais fofo do ano.
RATING: 73/100
TRAILER