Una Película de Policías

“Ninguém em sã consciência quer ser policial neste país”


É curioso, se vende como documentário, mas você percebe pela encenação, a fotografia, os enquadramentos, essa montagem muito sitcom, que existe algo “infiltrado”. A história começa pelo conto de uma policial, lentamente vai ao outro, cria toda uma narrativa de mistério/perseguição donde os protagonistas quebram constantemente a quarta parede. E daí a revelação: um efeito de meta-cinema extraordinário e voilá: UNA PELÍCULA DE POLICÍAS legítima, talvez o filme definitivo sobre a profissão, um discurso humanizado, por vezes engraçado – a cena da Parada Gay é igualmente divertida e humilhante -, também um conto de milícia, porque isso infelizmente faz parte, ainda mais no México. Alonso Ruizpalacios já havia se destacado antes com MUSEU, agora faz um filme ainda melhor.

Sim, a ideia original seria explorar as cadeias de corrupção e impunidade dentro das forças policiais, mas o ensaio durante as filmagens levou o roteiro para uma direção mais honesta, a vida (real) de dois personagens, ambos policiais que, no seu cotidiano, permitiriam algo além de um juízo predefinido de valores e abririam o diálogo sobre o que significa realmente ser polícia, seja no México ou em qualquer outro país, e isso com todo os altos e baixos da carreira. O que torna a experiência mais equilibrada: um projeto de quase dois anos de laboratório, os próprios atores matriculados na instituição, ali infiltrados para viver a profissão em sua plenitude, o próprio filme transitando entre a ficção e o documentário, indo ao fundo no retrato de Teresa e Montoya, na tela interpretados por Mónica del Carmen e Raúl Briones. E daí uma experiência visceral, primeiro encenada em toda a sua disfunção nas ruas, você vê os atores, mas não os enxerga; você os escuta, mas não entende. Há um ponto de vista feminino, depois outro masculino, por fim o casal reunido e… corte: os atores de repente saem do papel, os personagens aos poucos se revelam aos olhos de suas personas reais. Todo o filme é (re)dublado para o depoimento real, tantas experiências e histórias, o sonho de seguir a tradição familiar, de ser policial, isso até a exaustão causada pelo sistema, enquanto os atores voltam a interpretar sob suas próprias falas, como se o áudio e as imagens fossem dois mundos paralelos. É muito inusitado, diria genial.

Sem dúvida, um cinema de grande imersão, seja pela linguagem cinematográfica ou pela fluidez da montagem, o fato de explorar novas possibilidades dentro de uma narrativa e ali torcer, revelar, refletir, por fim nos encantar nesse discurso, no malabarismo de filme de ação, comédia, romance e documentário, sem quaisquer violências, nenhum “cidade alerta”, apenas pura e elaborada dramaturgia para o devido impacto social. E, de certa forma, uma inusitada empatia, não pela instituição como um todo, mas as pessoas de carne e osso que a compõem, nem todas corruptas, abusivas, mas pessoas comuns de farda, simplesmente ali para sobreviver e proteger.

RATING: 78/100

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REVIEW · BERLIM · SAN SEBASTIAN

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