Sob o slogan “traga seu amor pelos filmes”, a AMPAS divulgou recentemente as artes de sua 93a edição do Oscar. E é curioso, porque se trata de uma colagem psicodélica do imaginário de sete artistas diferentes, de vários locais do mundo (ninguém da América do Sul, vale dizer, mas isso é outra história), como se a premiação ao mesmo tempo tentasse se diversificar e modernizar (e de fato, eles estão), mas vai além, porque não se trata apenas de um poster qualquer, são vários, um multiverso de artes, o que se encaixa um pouco na narrativa dessa premiação. Há tantos contextos diferentes, inusitados e sem precedentes inseridos nessa (futura) lista de indicados, que é até inimaginável pensar que haveria Oscar esse ano. Mas haverá, mesmo aos trancos e barrancos, sem A CRÔNICA FRANCESA de Wes Anderson (adiado), sem a Marilyn Monroe de BLONDE (adiado), sem o acontecimento DUNA (adiado), sem as voltas de AMOR, SUBLIME AMOR (adiado) e tantos outros, os filmes de David O. Russell, Joel Coen, Tom McCarthy, Lin-Manuel Miranda, da Marvel, de James Bond, da Disney (todos adiados). Quem poderia imaginar? Fora o fato de não haver nenhum filme de Cannes (adiado, cancelado) para bagunçar a disputa de Filme Internacional. Emoji de grito.
Enfim, do ano em que a terra parou, o cinema idem, surge um Oscarverso interessante: pela primeira vez, o número de filmes indicados feitos especialmente para o streaming deve superar os títulos de estúdio. A Netflix deve sair com três indicados em Melhor Filme, e pelo menos mais dois em Diretor, Ator, Atriz, Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante. Sua concorrente direta, a Amazon Studios, deve somar mais duas indicações em Melhor Filme, além de mais quatro nos Oscars de Interpretação. Fora os acordos comerciais de distribuição, caso de RELATOS DO MUNDO, da Universal Pictures, que foi direto para a Netflix. Tal efeito, também será enorme nas categorias nanicas. A Netflix tem quatro curtas selecionados na pré-lista, a DisneyPlus tem dois curtas de animação no páreo. Sem dúvida, será um fenômeno interessante de observar, não só agora, mas já para o #Oscar2022, com os títulos da Warner Bros lançados diretamente na HBO Max e as janelas de exibição entre cinema e streaming cada vez mais curtas.
Outro universo paralelo: Sabe dizer quantas mulheres diretoras já foram indicadas ao Oscar? Em todos os seus 93 anos? Assim de cabeça, posso lhe afirmar: apenas 5… Lina Wertmüller (em 1976 por PASQUALINO SETE BELEZAS), Jane Campion (em 1993 por O PIANO), Sofia Coppola (em 2003 por ENCONTROS E DESENCONTROS), Kathryn Bigelow (em 2009 por GUERRA AO TERROR) e Greta Gerwig (em 2017 por LADY BIRD). Agora, veja só, existe a chance de três diretoras serem indicadas em 2021, certamente Chloé Zhao, a favorita indiscutível da temporada (ela GANHOU todos os prêmios possíveis), mas também Emerald Fennell e Regina King, que brigam entre si por uma indicação (ou duas). A outra categoria cheia de mulheres, vale dizer, é Melhor Figurino, com quatro postulantes além de Nancy Steiner brigando pela quinta vaga.
Vale ainda comentar as indicações póstumas: Chadwick Boseman se encaminha para uma dupla indicação póstuma como protagonista e coadjuvante por A VOZ SUPREMA DO BLUES e DESTACAMENTO BLOOD e é favorito pela estatueta de Melhor Ator, todos sabem. Já houve precedentes na história, James Dean também foi duplamente indicado morto por VIDAS AMARGAS (1955) e ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE (1956), assim como Peter Finch (REDE DE INTRIGAS, 1976) e Heath Ledger (BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS, 2008) já ganharam estatuetas na mesma situação. O que pode acontecer é outro recorde, o de indicações póstumas em uma mesma edição, já que se encaminha também a de Jack Fincher por Roteiro Original em MANK e a de Robb Gibbs por Filme de Animação em A CAMINHO DA LUA, o que iguala o número mórbido de 1991, quando Howard Ashman foi triplamente indicado em Canção por A BELA E A FERA, junto com a nomeação de Carol Sobieski em Roteiro Adaptado por TOMATES VERDES FRITOS.
Agora queria voltar ao multiverso do primeiro parágrafo porque, olha só, independente do merecimento ou não, as categorias de interpretação estão muito bem diversificadas em raça e nacionalidades: dos 20 atores a serem indicados, promessa de seis atores negros na cerimônia, dos quais dois são favoritos em suas categorias; outros dois asiáticos em disputa – Steven Yeun da Coreia do Sul, Yuh-Jung Youn da Coreia do Norte – sendo que a vovó de MINARI, em tese seria favorita (como você vê nos nossos prognósticos), mas de fato não o é porque o Oscar teria uma prerrogativa de treta para resolver com Glenn Close; uma atriz da Bulgária (Maria Bakalova) e oito atores britânicos (!). Outra curiosidade: somente três tentam um segundo Oscar (Viola Davis, Anthony Hopkins e Gary Oldman). Frances McDormand tentaria sua terceira estatueta (o que de certo modo vem lhe prejudicando na temporada pelo efeito “Meryl Streep”)
Curioso ao olhar o espelho e (re)ver toda a retrospectiva dessa temporada de premiações – uma jornada que se encaminha para 16 meses -, donde os cinemas estiveram fechados, todos os screenings foram onlines, então perdemos a percepção do que o votante da Academia gostou ou não. Os prêmios da crítica entregues lá longe, em dezembro, ninguém mais lembra, distorções escalafobéticas do Globo de Ouro (eles viram MUSIC mesmo?) e muitas distribuidoras perdidas nesse pandemônio de estreia/não estreia. JUDAS E O MESSIAS NEGRO é um caso interessante, uma completa incógnita, passou ileso por toda a temporada, não por falta de indicações, mas por estratégia errada da Warner. O pessoal da Sony Pictures Classics completamente perdido com MEU PAI. THE MAURITANIAN é outra surpresa, vai surpreender ou será mais um caso SELMA? Um ano bem louco – e confesso que a temporada 2022 também será complicada.
Enfim, dentro do “Wandavision” que foi essa temporada de Oscar, fato é que a lista dos indicados sai em breve, então é hora de focar e especular, categoria por categoria:
Melhor Filme: pelo histórico e toda a farofada do sistema de voto preferencial, devem ser oito indicados nessa categoria (dizem que pelo ano escasso de títulos, talvez até seja menos). Por nosso prognóstico, cinco títulos já com 99,99% de chances de serem indicados: NOMADLAND, OS 7 DE CHICAGO, MINARI, MANK e BELA VINGANÇA, enfim são filmes que gabaritaram todas as premiações precedentes – PGA, Globo de Ouro, Critics Choice, BAFTA, AFI & Cia. – e seria impensável vê-los de fora. A surpresa, se houver, virá com os três títulos seguintes: UMA NOITE EM MIAMI, O SOM DO SILÊNCIO e A VOZ SUPREMA DO BLUES, sim, eles têm o endosso da Guilda e do AFI, mas na lista de voto preferencial podem ficar mais abaixo na disputa ou até de fora. Isso porque JUDAS E O MESSIAS NEGRO é uma incógnita. E o MEU PAI, apesar da campanha medonha nos EUA, ganhou sobrevida com o BAFTA, até porque no Reino Unido, sua campanha foi feita pela Lionsgate. RELATOS DO MUNDO e DESTACAMENTO BLOOD, vejo como azarões.
Melhor Diretor: aqui a lista deve repetir os nomes do DGA e seguir os favoritos em Melhor Filme. Chloé Zhao, David Fincher, Aaron Sorkin e Lee Isaac Chung com as indicações bem encaminhadas, minha única dúvida seria a quinta vaga entre Emerald Fennell e Regina King, a primeira com boa vantagem porque BELA VINGANÇA está em um momento melhor (isso também se reflete no número de indicações, observem), além do fato de Emerald concorrer na Guilda em uma categoria mais importante.
Melhor Ator: aparentemente uma categoria fechada em cinco, mas que engana: de certo mesmo somente Chadwick Boseman, Riz Ahmed e Anthony Hopkins (que sequer campanha fez). Gary Oldman e Steven Yeun fechariam em tese o quinteto, mas o fantasma de Delroy Lindo assombra. Em tese, Delroy não tem chances, ele foi esnobado em diversas e sucessivas premiações para tentar algo, mas a memória afetiva, ou a lembrança daqueles distantes prêmios da crítica de Nova York, entre outros, nos faz sonhar. Tahar Rahim é outro que surgiu do nada, sozinho não amedronta, mas corre por fora porque – sabemos – o SAG e o BAFTA amaram THE MAURITANIAN. Outro que apareceu, essa semana, é Mads Mikkelsen, já tinha o Prêmio do European Awards, agora a indicação do BAFTA, fora o favoritismo inconteste de DRUK – MAIS UMA RODADA em Melhor Filme Internacional, acho difícil ser indicado, mas está em ascensão.
Melhor Atriz: aqui sim, grupo fechadinho. Havia dúvida pela quinta vaga, se seria de Amy Adams (SAG), Sidney Flanigan (Spirit Awards) ou Zendaya (Critics Choice), mas no geral a maioria dos oscarbuzzers estão indo na Andra Day com o patrocínio do Globo de Ouro. Carey Mulligan, Frances McDormand, Viola Davis e Vanessa Kirby fecham as indicadas, num grupo fortíssimo, mas levemente inclinado para Carey Mulligan pelo fator ineditismo.
Melhor Ator Coadjuvante: Daniel Kaluuya recentemente roubou o favoritismo de Leslie Odom Jr., nessa categoria que deve contar ainda com Sacha Baron Cohen. Paul Raci, esnobado tanto no SAG como no Globo de Ouro, ganhou força com um nod pelo BAFTA, embora seja uma indicação suspeita porque foi originada de um júri e não pelos próprios membros da Academia Britânica. Outro “senão” seria a (dupla) indicação (póstuma) de Chadwick Boseman por um filme totalmente esquecido na temporada (seria a única indicação de DESTACAMENTO BLOOD, no caso). O detalhe seria quem indicar no lugar deles… na briga estariam Jared Leto (SAG e Globo), Bill Murray (Globo e Critic Choices) e, por fim, o menino de MINARI, Alan S. Kim também reconhecido pelo BAFTA. David Strathairn ganhou certa força na semana, mas acho difícil. No final, ficamos mesmo com Raci e Boseman junto com os três favoritos.
Melhor Atriz Coadjuvante: sem dúvida a melhor categoria do Oscar, com Yuh-Jung Youn, Maria Bakalova, Olivia Colman, Glenn Close e Amanda Seyfreid encaminhadas para a indicação, além de Jodie Foster, Ellen Burstyn e Helena Zengel para atrapalhar. Todas as oito revezaram atenção na temporada, com ausências, indicações e certos prêmios. Em nossas apostas, Yuh-Jung Youn e Maria Bakalova estariam na frente porque tiveram maior consistência. Glenn Close é a dúvida: sem suporte da crítica e um desempenho mediano nas premiações televisionadas, ela pode ficar de fora, pegar uma quarta ou quinta vaga, tanto faz. Agora, se for indicada, ela ganha. O Oscar lhe deve isso.
Melhor Roteiro Original: seguindo as indicações de BELA VINGANÇA, OS 7 DE CHICAGO, MINARI e MANK (essa póstuma), a dúvida seria apenas entre O SOM DO SILÊNCIO ou JUDAS E O MESSIAS NEGRO pela última vaga. NUNCA ÀS VEZES RARAMENTE SEMPRE e SOUL são azarões.
Melhor Roteiro Adaptado: Mesmo caso de Roteiro Original, com quatro nomes bem fortes na disputa (NOMADLAND, UMA NOITE EM MIAMI, A VOZ SUPREMA DO BLUES e MEU PAI), com a última vaga em aberto, diria escancarada: em tese seria de RELATOS DO MUNDO, esse em queda livre. E depois viria FIRST COW (indicado pelo USC Scripter Award, nossa torcida, mas completamente esquecido até pela distribuidora). BORAT: FITA DE CINEMA SEGUINTE e O TIGRE BRANCO, foram ambos indicados pelo sindicato, o WGA Awards, então há chances de um deles repetir o mesmo no Oscar
Melhor Desenho de Produção: tem muito oscarbuzzer comparando MANK com O IRLANDÊS, mas aqui, ao menos o filme de David Fincher é favoritíssimo porque levou TUDO na temporada e dificilmente perde o Oscar de Direção de Arte. Provavelmente vão aplaudir de casa (ou do Teatro Dolby, ninguém sabe ainda como vai ser a transmissão), RELATOS DO MUNDO, A VOZ SUPREMA DO BLUES e TENET. A última vaga está entre EMMA (nossa aposta) e MULAN (aposta do sindicato).
Melhor Fotografia: NOMADLAND, MANK e RELATOS DO MUNDO, os três indicados do sindicato, do BAFTA e do Critics Choices devem repetir o mesmo no Oscar. OS 7 DE CHICAGO, TENET, MINARI e JUDAS E O MESSIAS NEGRO brigam por duas vagas.
Melhor Figurino: parece um grupo fechado entre A VOZ SUPREMA DO BLUES, EMMA, MANK, MULAN e RELATOS DO MUNDO. BELA VINGANÇA e AMMONITE correm por fora, mas muito atrás, não deve ser ameaça ao grupo.
Melhor Montagem: meio que repete a lista de favoritos de Melhor Filme e Diretor, só trocando MINARI por O SOM DO SILÊNCIO. Deve fechar sem surpresas em OS 7 DE CHICAGO, NOMADLAND, MANK, O SOM DO SILÊNCIO e BELA VINGANÇA. Talvez MEU PAI surpreenda e roube a vaga de alguém.
Melhor Maquiagem: A VOZ SUPREMA DO BLUES e ERA UMA VEZ UM SONHO são favoritos. MANK deve conseguir outro nod aqui. AVES DE RAPINA, PINÓQUIO e EMMA brigam pelas duas vagas restantes e nessa ordem.
Melhor Trilha Musical: sem surpresas, SOUL, MANK, RELATOS DO MUNDO, MINARI e O CÉU DA MEIA-NOITE. Se houver surpresa, será TENET, mas não acredito.
Melhor Som: essa categoria vai destruir bolões… muita gente apostando em TENET, com aquela mixagem de som horrível, não à toa esnobado pela Guilda. Muita aposta em OS 7 DE CHICAGO também. Alguns apostando – por ser um musical – nA VOZ SUPREMA DO BLUES… mas o detalhe é que essa categoria unificou Mixagem e Edição de Som e curiosamente lida com duas Guildas agora, então a aposta fica mais complexa. Interpolando os dois grupos, se observa certo favoritismo em O SOM DO SILÊNCIO e RELATOS DO MUNDO. SOUL, MANK e GREYHOUND, também representados em ambos os sindicatos, fecham as nossas apostas finais. DOIS IRMÃOS e O PROFESSOR POLVO também fizeram esse duo, mas não são ameaça.
Melhor Efeitos Visuais: talvez a categoria mais enfraquecida da temporada, com todos os adiamentos dos blockbusters para 2021/2022. Restou TENET, então Oscar para o filme que destrói avião. O CÉU DA MEIA-NOITE, MULAN, MANK, WELCOME TO CHECHNYA fecham uma lista bem méh, embora seja bem legal ver um documentário ser indicado aqui. MANK está meio em baixa. Não se surpreendam de ver O GRANDE IVAN aparecer no seu lugar.
Melhor Canção: três canções certas aqui, as de UMA NOITE EM MIAMI, ROSA E MOMO e JUDAS E O MESSIAS NEGRO. Outros três filmes brigam por duas vagas, meio que no empate técnico: ATÉ O FIM: A LUTA PELA DEMOCRACIA, FESTIVAL EUROVISION DA CANÇÃO: A SAGA DE SIGRIT E LARS e OS 7 DE CHICAGO. O AwardsDaily aposta na canção de MR. SOUL!, não vi mais ninguém fazê-lo.
Melhor Filme de Animação: vai ter pegadinha aqui, mas o grupo de “runner ups” está tão fraco que não tenho coragem de tirar alguém do grupão para arriscar, hoje fechando as apostas em SOUL, WOLFWALKERS, DOIS IRMÃOS, A CAMINHO DA LUA, OS CROODS 2, e isso é tão monótono que duvido que a lista final seja essa, ainda mais feita pelo Branch mais kamikaze da Academia. Mas quem colocar no lugar? SHAUN, O CARNEIRO? OS IRMÃOS WILLOUGHBYS? EARWIG AND THE WITCH? Acho bem difícil algum desses filmes roubar a vaga de alguém… só por curiosidade, vale mencionar que A CAMINHO DA LUA está em queda livre nessa reta final.
Melhor Documentário em Longa-Metragem: bem empolgado com essa categoria, mesmo sabendo que ela vai destruir meu bolão. Fechando as apostas em TIME, COLLECTIVE, CRIP CAMP, AS MORTES DE DICK JOHNSON e WELCOME TO CHECHNYA, mas devo avisar que outros oito títulos com chances também. Na verdade, da pré-lista de 15 filmes, só AGENTE DUPLO e NOTTURNO estão meio fora do páreo. Um ano fortíssimo, como nunca se viu.
Melhor Filme Internacional: há oito títulos se revezando nas apostas, DRUK – MAIS UMA RODADA e QUO VADIS, AIDA? aparentemente estão em todas. Depois um leve favoritismo por COLLECTIVE, NÓS DUAS e LA LLORONA (esse o queridinho da crítica). Por fim, CAROS CAMARADAS!, LA NUIT DES ROIS e YA NO ESTOY AQUÍ correndo por fora. O filme russo com mais chances de surpreender, embora não o suficiente.
Enfim, as nossas apostas completas do #Oscar2021, você encontra no link abaixo: