Coronation

Começa pelo ar e se espalha pela China, CORONATION abre no mais cinza, a trilha pixelada, seres pela noite, ambulâncias faiscantes… aqui começa o conto de horror de Ai WeiWei, ali em Wuhan, no princípio de tudo, filmando a pandemia na via expressa, todos assustados com o vírus mortal, todos fugindo e o cineasta indo de encontro à doença porque ele precisa trabalhar, ele precisa filmar. Na tela, o que se vê é um cinema kamikaze, a câmera a andar por uma cidade fantasma, pela noite opressora, o para brisa indo e vindo como o prologo de um videogame de terror. E a neve. Os neons. Esse silêncio ensurdecedor… tão logo o jump scare, os tênues bip-bip de algum equipamento médico, cenas de alguém entubado, enfermeiros correndo, pessoas em saco plástico, o filme nos asfixiando pelos corredores do hospital, entre tantos procedimentos, agulhas, cotonetes e testes, mas “por favor, não espalhe energia negativa”.

Então, muda-se os planos: de muito longe um formigueiro humano constrói um hospital de campanha, de muito longe delegações de enfermeiros chegam na cidade, para essa olimpíada contra a morte. WeiWei registra todo o itinerário, os olhares vazios, os passos nervosos, esse labirinto de corredores brancos, o angustiante plano sequência de percorrer toda uma ala para, tão somente, se preparar à guerra-tratamento: o lavar compulsivo de mãos e põe as luvas e põe as calças e põe as mascaras e põe as roupas de proteção, até não sobrar nada de pele – essa pele tão acinzentada de uma luz sanitizante. E assim se protege até não restar nada de médico para se ver. Só os olhos. Já se são 30 minutos de projeção, ao fundo o relógio marca 20h41. Que comece o plantão. E de novo o bip-bip, como sirenes do inferno, o pinga-pinga de um processo muito invasivo de cuidar.

Logo o filme se espalha para outros trabalhadores, um entregador de encomendas, os serviços essenciais, a sanitização nas ruas, “só uma formiga entrou em contato com o veneno, mas depois que ela voltou à colônia, todas morreram lá”, comenta uma velha senhora, membro do partido comunista. E segue a pandemia, a câmera do cineasta percorrendo as pessoas, pegando depoimentos aqui e acolá para costurar o que acontece, um punhado de opiniões entre tantas nessa cidade isolada que se desfaz. E aos poucos, aos tropeços, WeiWei vai se encaminhando para o fim, um final exaustivo: um longo lamento sem bip. E cinzas. Muitas cinzas.

RATING: 71/100

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