A Vida Invisível


Sobre A VIDA INVISIVEL (DE EURIDICE GUSMÃO), Karim Aïnouz filma algo extremamente pessoal. E o faz em filtros fluorescentes, em cores saturadas, a câmera próxima aos personagens, tão próxima que você sente o coração pulsar. Um filme cheio de sensualidade e música, um pouco de lágrimas, suor e rímel, mas também de certa crueldade, violência e sexo; um filme que não esconde seus sentimentos, nem hesita do melodrama novelesco, mas que almeja sempre algo maior, tal qual suas protagonistas – Guida e Eurídice.

Então, são duas irmãs, duas confidentes, duas mulheres perdidas em sua história, cada uma narrando seu episódio, elas próprias confabulando sua vida como nossa mãe, nossa avó, alguma tia ou tantas outras mulheres “invisíveis” o faziam em seu tempo. Histórias que não foram contadas o suficiente, nem em romances, nem em livros ou mesmo no cinema, mas que Karim filma (outrora Martha Batalha escreveu) e agora o público sente, ali na tela, pulsando e pulsando e pulsando, tanto drama, tantos sonhos, uma lágrima, um sorriso, um capitulo invisível dessa luta. Um filme de volta ao tempo, ao passado, ao caloroso Rio de Janeiro dos anos 50, e isso emoldurado por tais mulheres, seus dilemas e uma cultura patriarcal, dia após dia, semana a semana, o casamento, os filhos, momentos esplendidos e trágicos, grandiosos e viscerais.

Uma história tão pequena, tão intima, filmada no improviso, na plena energia, experimentando o oficio de seus atores, na tela as fenomenais Julia Stockler e Carol Duarte, e com elas o filme se avolumando, cada vez mais intenso, até o clímax final, o grande monologo de Fernanda Montenegro em gigantesco close-up. Nesse ponto, A VIDA INVISÍVEL se torna um caso de amor, quase tóxico em seu tom, música e abordagem. Um filme épico feito de pequenos momentos que não hesita em manipular os sentimentos e as sensações do seu público, e o faz de forma competente, quase às lágrimas, o coração nu, ali pobre, pulsando por esses personagens, pulsando dentro de nós. Algo visceral. Algo delicado. A linha é muito ténue, quase invisível. Sim, a vida é assim.

RATING: 79/100

TRAILER

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FILMES · CANNES · TIFF · MOSTRA SP

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