A Bela e a Fera

De um conto tão antigo quanto o tempo, de um filme que marcou gerações, uma Era, tantas canções, Bill Condon filma o mesmo e o improvável: E o faz nas mesmas notas, nas mesmas cenas, diversas rimas visuais entre o passado e o presente, entre 1991 e 2017. Não com a mesma magnificência de seu anterior, sem ousar, sem inventar, apenas o suficiente para colocar essa trama, a história dA BELA E A FERA em nossos tempos. O resultado? Uma plateia emocionada, algumas lágrimas, vários casais aos beijos e abraços, enquanto Emma Thompson estava ali, cantando uma velha canção. E sim, sentimentos são assim. Você sente. Eu senti. E esse é o verdadeiro encanto. De uma história. Do cinema. Ao menos da minha infância.

Não que não haja armadilhas… O próprio fato de se arriscar uma adaptação em live-action é uma arapuca em si, que torna esse filme menor que o original da Disney. Aqui, se perde opções, a magnificência das coreografias e canções, um pouco da animação dos personagens, do carisma desses objetos que sempre arrancavam um sorriso ou risada. Lumière está apagado, Cogsworth está robótico e a Sra. Potts perdeu o encanto. Em contrapartida, os personagens de carne e osso ganham destaque, o pai de Bela tem um desenvolvimento melhor, mais humano e, sem dúvida, LeFou rouba a cena em cada aparição.

Há também um resgate do conto original de Gabrielle-Suzanne Barbot, Dama de Villeneuve: Tal qual se contava antigamente, a rosa em A BELA E A FERA representa o amor. Ela marca o tempo, o viço, a juventude e suas paixões. É vermelha, intensa, extremamente volumosa. Nos arrebata por sua beleza, nos hipnotiza e nos atrai. No filme, há um resgate dessa simbologia que data do sec.XVIII. No começo, há uma cena donde Bela pede ao pai uma rosa e o mesmo argumenta que ela sempre o faz todos os anos – na verdade, ela pede o amor, um marido, isso num tempo aonde os casamentos eram acordos comerciais. Curioso, que o pai, depois, no jardim da Fera, rouba uma rosa branca para presentear sua filha. Isso é a pureza, o único amor que cabe entre um pai e sua filha. A vermelha está com a Fera, o “noivo” pelo qual Bela é “vendida”. Com o passar do tempo, a Fera – esse homem “estranho” -, vai se humanizando aos olhos de Bela. Cria-se aqui um romance, uma história de amor. No filme de Jacques Cocteau, dos anos 40, Bela é “conquistada” pela coragem (lê-se proteção da Fera) diante dos lobos. Nos filmes da Disney, tanto nas versões de 1991 e 2017, isso é feito por um olhar, digamos, feminista: A Fera presenteia Bela com uma biblioteca, valoriza seu intelecto e seu saber. Na adaptação de Condon até cita-se Shakespeare. Em antagonismo, o machismo é personificado pelo personagem de Gaston. Ele é a vaidade masculina e não à toa as diversas cenas com espelho. Por último, uma curiosidade: É desse conto que surgiu a expressão “deflorar uma jovem”. Falando de rosas e suas simbologias nesse conto de fadas, nem preciso explicar muito, certo?

RATING: 75/100

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FILMES

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