Que Viva, Eisenstein!

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Em 1931, no auge de seu poder artístico, e ainda sobre os louros de OUTUBRO e dO ENCOURAÇADO POTEMKIN, Sergei Eisenstein deixa seu casulo dourado, a incrível Hollywood, para se aventurar mais ao sul, aos mistérios e prazeres de Guanajuato. E é nesse movimento de humor febril, donde as imagens se chocam ao texto, isso em múltiplos estouros e delírios visuais, que Peter Greenaway filma e loucamente: Os retratos de um ilustre exilado, aos amores e (a)braços de Palomino Cañedo e QUE VIVA MEXICO! (Senão o azeite!).

Um filme que emula a aurora do cinema mudo, a pretensão brega dos americanos, a extravagância implausível dos alemães, a avant-garde literária dos franceses… E tudo no liquidificador, na cabeça de Sergei, aos olhos de Greenaway, um turbilhão muito rápido, violento, agressivo. O cenário saturado, as cores em realce, o P&B em alegoria, os filmes antigos, as cenas aceleradas, total descontrole, presente e futuro, sexo e morte, o velho e o novo, o princípio e o fim… Tudo em choque, aos vômitos, a câmera a girar a girar a girar até nos deixar tonto. Enquanto Elmer Bäck encarna o cineasta, o diabo ou o gênio, nos entregando o coração, a alma, o corpo e seu pênis, isso além do humano, quase sobrenatural, cagando, chorando, maldizendo ou uivando Eisenstein.

E é assim pelo corte muito rápido, o desejo compulsivo, quase maníaco de se comunicar, em imagens, em palavras, o diálogo em verborragia, entremeados por dança, paisagens, estática, close-ups e grandes dioramas. O mesmo material, visto várias e várias vezes, em diferentes perspectivas, o convencional, a ilusão, o drama, às vezes original, um tanto artificial. O interminável discurso pelas referências, Malevich, Vertov, Brecht, Cocteau, Dos Passos, Stroheim, Sternberg, Chaplin, Stravinsky, Disney, Buñuel, Dietrich, Mickey Mouse, Rintintin e tantos outros a lhe abrir as perspectivas, isso além dos apartamentos obscuros de Moscou, além da tela e sob a tutela de Cañedo, e assim por toda Guanajuato, por esse grande teatro: As praças, fachadas e tumbas sob os holofotes; Engraxates, prostitutas e bananeiros em cena; Enquanto ao fundo, toca a orquestra e viva los muertos!

E ao final desse tríptico em Cinemascope, da obsessão de Eisenstein com sapatos e garfos, do seu fascínio pela corcunda, seu entusiasmo pelos homens das cavernas, as cartas de Upton Sinclair e Stalin, o terno branco e suspensórios vermelhos, o pijama amarelo e os sonetos de Pera Atasheva, sentimo-nos fartos desse derrame cinematográfico. Ame ou deixe, essa é a proposta. Nada de Hollywood, apenas sentimentos à força. Nenhuma viagem de ego, apenas cinema de (pretensa) arte, de celebração, de um (legitimo) Greenaway.

(*) Crônica livremente inspirada da entrevista com o diretor, em Berlim, bem como do material de divulgação cedido pela Hoehnepresse
RATING: 56/100

TRAILER & STREAMING


*** video on demand somente com legenda em espanhol ***
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FILMES · BERLIM · MOSTRA SP · FILMES LGBT · FILMES VOD

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