O Brasil e a Copa do Cinema, o Oscar 2015

Ao fim (massacrante) dessa Copa do Mundo, muitos leitores do Spoiler perguntam qual filme o Brasil vai colocar em campo para o Oscar 2015 e não à toa a expectativa é enorme: Nunca o país viu uma safra tão boa, de tanta repercussão e projeção internacional, primeiro em Toronto, com O LOBO ATRÁS DA PORTA, depois em Berlim, com PRAIA DO FUTURO e HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO, por fim em Annecy, com O MENINO E O MUNDO e ATÉ QUE A SBORNIA NOS SEPARE. Falta ainda considerar ELENA, doc-indie que estreou com boas críticas em território americano e – porque não? – GETÚLIO e QUANDO EU ERA VIVO, duas boas estreias do primeiro semestre. Qual deles disputariam melhor a copa do cinema? Qual deles seria Gol certo na corrida pelo Oscar 2015? Vamos especular…

Primeiro, às regras: A categoria chama-se “Melhor Filme em Língua Estrangeira” e é com esse nome bem xenófobo que a Academia denomina a sua premiação mais confusa e imprevisível. A questão básica é muito simples: O “Oscar” é basicamente uma ação para promover o cinema norte-americano. É um grande e muito bem sucedido trabalho de marketing, donde os estrangeiros estão ali apenas para justificar a globalização. Premiá-los, destacá-los, exaltá-los, dá a sensação que apenas “furaram” a festa alheia e, por isso, sempre se toma o máximo de cuidado, se cria o máximo de dificuldades para que essa categoria não venha a tomar uma dimensão grande demais em detrimento do produto nacional. Além disso, há outros entraves, como o fato de americano não gostar de filme legendado e não se interessar pela cultura estrangeira. Egocentrismo? Basicamente, sim.

Portanto, é difícil explicar tantas regras esdrúxulas e complicadas para tornar um filme elegível ao Oscar de Filme Estrangeiro. Começa com cada país escolhendo somente um titulo para submeter à Academia e isso da forma mais arbitrária e aleatória possível, o que exclui certamente alguns favoritos de cara. Depois, existe um comitê voluntário que assiste aos filmes submetidos (cerca de 70) em sessões entre Outubro e Dezembro. A maratona é extensa, filme de manhã, filme de tarde, todo dia, o que torna essa tarefa extremamente cansativa. Títulos que começam lentos ou tem narrativa arrastada, cult ou de “arte” logo são descartados. Esse foi o caso de ABRIL DESPEDAÇADO e TIO BOONMEE, por exemplo. E é este comitê quem escolhe os seis finalistas, além de outros três títulos, que um Comitê Executivo resgata do limbo pelo bem (justiça?) da premiação. Por fim, destes 9 se peneira – e finalmente – os cinco indicados.

Assim, existem alguns cuidados para submeter um filme, diria “oscarizável”, à disputa. Nessa categoria, em particular, além da qualidade – isso é evidente -, a fita deve ser antes de tudo universal, um consenso comercial, de crítica e bilheteria, de longo alcance, não só em território americano, mas necessariamente na Europa e no mundo. Um filme para gringo ver, literalmente. Não, por exemplo, O PALHAÇO, que o Brasil submeteu ao Oscar 2013, sim, um belo filme, mas inviável no exterior, por tantos regionalismos e prosa. E simplesmente porque os estrangeiros não “compraram” a ideia, tão pouco o filme de Selton Mello (sem qualquer distribuição no exterior), diferente dO SEGREDO DOS SEUS OLHOS, exibido em 7 Festivais diferentes e distribuído comercialmente em mais de 30 países.


Com sorte, nesse jogo, o Brasil felizmente conhece as regras e a forma como Hollywood pensa. Geralmente escolhe seu melhor produto, o mais comercialmente viável e os fiascos – como LULA, O FILHO DO BRASIL (2011) e SALVE GERAL (2010) – são decorrentes mais de apostas (arriscadas) no lobby estrangeiro do que má escolha. E nesse esboço, talvez O LOBO ATRÁS DA PORTA seja o melhor filme para representar o Brasil. Não só pela projeção internacional, mas também por já figurar como um dos melhores filmes nacionais do ano, segundo a opinião de vários críticos além, é claro, da Liga dos Blogues Cinematográficos, comunidade do qual esse blog pertence.


Mas porque não se deixar seduzir por HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO? Um filme menor, sem dúvida, mas de grande apelo sentimental e carisma. Uma historia que surpreendentemente conquistou Berlim levando o Teddy Awards e isso com um grande filme em disputa, LOVE IS STRANGE, um dos indies favoritos ao Oscar, ao menos em Melhor Ator e Ator Coadjuvante. O fato é que, apesar de amá-lo, surpreende-lo, inová-lo, o tema – e falo da emancipação de um jovem – é algo comum no cinema, mil vezes filmado e contado e aqui não tão bem dirigido por Daniel Ribeiro, que escorrega em algumas cenas que mereciam, digamos, takes adicionais. Sim, é um grande filme – eu adoro -, mas simplesmente não é filme de Oscar.


E por fim um tesouro: O MENINO E O MUNDO, uma animação que dispensa qualquer legenda, qualquer idade, qualquer fronteira. Uma historia universal que conquistou público e critica no Festival mais importante (e pé quente) do gênero, o suficiente para despertar uma distribuição instantânea da independente Gkids nos EUA. Submeter uma animação ao Oscar de Filme Estrangeiro não é novidade, França (PERSEPÓLIS, 2008) e Irã (VALSA COM BASHIR, 2009) já o fizeram com bastante sucesso, mas o detalhe aqui é a concorrência: Ao submeter uma animação para filme estrangeiro, o foco naturalmente é outra categoria, filme de animação, o que em tese é menos disputado e, em teoria, mais fácil num ano sem qualquer lançamento da Pixar. O fato é que todas as outras distribuidoras assim o pensaram e a própria Gkids tem dois outros lançamentos programados, simplesmente O CONTO DA PRINCESA KAGUYA – o melhor filme da década – e SONG OF THE SEA, o novo filme de Tomm Moore (THE SECRET OF KELLS). Caso o Brasil submeta o filme ao Oscar, pode queimar um título que, no próximo ano, teria chances reais de indicação em Filme de Animação.

———————————————————————–Os Prováveis Concorrentes ao
Oscar 2015 de Filme Estrangeiro:


MOMMY
Xavier Dolan – Canadá
TWO DAYS, ONE NIGHT
Jean-Pierre & Luc Dardenne – Bélgica
TURIST
Ruben Östlund – Suiça
SAINT LAURENT
Bertrand Bonello – França
LE MERAVIGLIE
Alice Rohrwacher – Itália
TIMBUKTU
Abderrahmane Sissako – Mauritânia
STILL WATER
Naomi Kawase – Japão
WHITE GOD
Kornél Mundruczó – Hungria
COMING HOME
Zhang Yimou – China
WINTER SLEEP
Nuri Bilge Ceylan – Turquia
LEVIATHAN
Andrey Zvyagintsev – Rússia
THE TRIBE
Myroslav Slaboshpytskiy – Ucrânia
BLIND
Eskil Vogt – Noruega
A GIRL WALKS HOME ALONE AT NIGHT
Ana Lily Amirpour – Irã
O LOBO ATRÁS DA PORTA
Fernando Coimbra – Brasil
RELATOS SALVAJES
Damian Szifron – Argentina

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Leia Mais sobre o OSCAR 2015!


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