O Anima Mundi nunca foi apenas uma mostra de filmes. Oficinas, workshops, performances, encontros, fóruns e debates fizeram do festival um dos principais eventos do calendário audiovisual brasileiro e o consagraram como a grande vitrine para a produção de animação nacional e internacional. É com a experiência de quase duas décadas em atividade que o Anima Mundi chega à 19ª edição com fôlego de iniciante. Depois de uma passagem de sucesso em terras cariocas, O Festival aporta hoje em São Paulo e segue animado até 31 de julho, no Memorial da América Latina, Centro Cultural Banco do Brasil, Espaço Unibanco Augusta e Cine Livraria Cultura.
Mais uma vez, as inscrições bateram recordes: cerca de 80 países se inscreveram, em mais de 1300 curtas e longas. Os diretores do festival, Aída Queiroz, Cesar Coelho, Lea Zagury e Marcos Magalhães, selecionaram 421 filmes de 44 países para as mostras principais. Depois do Brasil, que comparece com 77 produções, seguem França, com 58, Reino Unido (40), Estados Unidos (31), Alemanha (18), Canadá (14) e Rússia (13). Ainda completam a lista países como Taiwan, Grécia, Lituânia, Mônaco, Letônia, Colômbia, Índia, Israel e Estônia.
Da improvável Estônia vem também toda a programação visual do festival. O animador estoniano Priit Pärn, convidado especial da edição 2009, criou o conceito de todas as peças gráficas do Anima Mundi 2011: logo, cartazes, catálogos e produtos.
E no ano em que a animação RIO – dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha – alcançou milhões de espectadores e destacou o país mundo afora, nada mais justo do que homenagear e convidar o diretor para a mostra. Freqüentador do festival desde a sua primeiríssima edição, Saldanha terá um Papo Animado dedicado aos seus trabalhos e também participará de um dos debates do VI Anima Forum, série de encontros que debate os rumos e as novidades do mercado.
Composto de quatro mesas, o forum discutirá temas como as dificuldades de um bom roteiro, os desafios da animação brasileira e as relações entre estúdios e animadores. A palestra de Saldanha (‘RIO – Quadro a Quadro’) vai abordar detalhadamente todos os passos necessários para se realizar uma superprodução animada, da concepção ao lançamento em escala mundial. O encontro coroa o amadurecimento da animação brasileira e prepara o terreno para se investir nesta modalidade de produção bem mais exigente em termos de preparação, estrutura e investimento.
O tema também será debatido na mesa de abertura: ‘PPA – Parcerias Público-Animadas’, composta pelos protagonistas de uma união que revolucionou o setor no Brasil nos últimos anos: o poder público, as produtoras de animação, a comunidade de animadores e o Anima Mundi. A proposta é discutir a manutenção desta nova indústria de animação vigorosa que se estabelece no país, como aperfeiçoar, inovar e expandir a partir do que se conquistou.
Há, também, a visita do mestre do anime Shinichiro Watanabe, japonês que dirigiu os cultuados seriados ‘Cowboy Bebop’ e ‘Samurai Champloo’. Watanabe se destaca pelo refinamento visual e musical de seus trabalhos – ele é um grande conhecedor e admirador da música brasileira. Além de seu Papo Animado, será exibido o longa COWBOY BEBOP – O FILME e uma sessão retrospectiva, na qual participa um episódio inédito de uma curiosa série de anime inspirada na realidade brasileira, Michiko e Hatchin, em que Shinichiro Watanabe atuou como diretor musical.
Outro que vem trocar experiências com o público brasileiro é o americano David Daniels. Conhecido pelo trabalho em diversas vinhetas publicitárias e clipes musicais (como em ‘Big Time’, de Peter Gabriel), ele falará sobre uma técnica criada e desenvolvida por ele, a strata-cut animation, que constrói o movimento através de fatias em sequência de um mesmo bloco de massinha.
Já a também americana Miwa Matreyek mostrará porque é um dos nomes mais disputados por renomados festivais de arte internacionais. Posicionada atrás de uma tela, que exibe seu filme de animação projetado, Miwa interage com as imagens e mescla os conceitos de animação, teatro e artes visuais. Ela vai apresentar sua performance (de cerca de vinte minutos) em algumas sessões por dia, em dias alternados.
As presenças internacionais deste ano se completam com o diretor de arte Thomas Cardone e Ryan Woodward. Enquanto Cardone falará sobre todo o planejamento, o design e a execução do longa-metragem RIO, Woodward (HOMEM-ARANHA, HOMEM DE FERRO 2) dará uma Master Class abordando o processo de criação de storyboards e animatics para curtas e longas.
As novidades continuam com a inclusão de uma sessão de terror na mostra competitiva de curtas, composta pelos melhores exemplares do gênero produzidos no último ano, e as mostras de animação chilena (Chilemonos) e outra com alguns episódios inéditos da série em stop-motion ‘Shaun the Sheep’, produzida pela Aardman. Já a competição de longas vai reunir quatro obras voltadas para o público infantil: THE SANDMAN AND THE LOST SAND OF DREAMS (França/Alemanha), EL LINCE PERDIDO (Espanha), LIGHT OF THE RIVER (Japão) e HEART AND YUMMIE (Japão).
Os diretores do festival ainda convidaram outros quatro longas, que integram as mostras não-competitivas. Entre eles, estão o brasileiro MORTE E VIDA SEVERINA, inspirado no poema de João Cabral de Melo Neto, e CHICO & RITA, primeiro longa de animação do diretor espanhol Fernando Trueba, co-dirigido com o desenhista Javier Mariscal e seu irmão, Tono Errando. A obra retrata a história de amor entre uma cantora e um pianista na Havana de 1948, com música do cubano Bebo Valdés e participação da cantora de flamenco Estrella Morente. Trueba estará presente para apresentar seu filme.
Fora das salas de cinema, as tradicionais oficinas (de técnicas como pixilation, massinha, areia, desenho, zootrópio e película) continuam a divertir crianças e adultos, travando o primeiro contato com a animação entre a maioria dos participantes.