{"id":40727,"date":"2022-01-19T09:00:36","date_gmt":"2022-01-19T12:00:36","guid":{"rendered":"https:\/\/spoilermovies.com.br\/?p=40727"},"modified":"2022-03-26T13:10:09","modified_gmt":"2022-03-26T16:10:09","slug":"taming-the-garden","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/spoilermovies.com.br\/2022\/01\/19\/taming-the-garden\/","title":{"rendered":"Domando o Jardim"},"content":{"rendered":"
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\u00c9 cinema de arrebatamento: c\u00e9u azul, mar azul, o azul em tudo. E ao centro uma velha \u00e1rvore de majestosa coroa flutuando sobre o mar… o que parece uma pintura surrealista \u00e9 uma das imagens mais cativantes de DOMANDO O JARDIM, de Salom\u00e9 Jashi: cativante e ambivalente em igual medida, porque o transportar dessa \u00e1rvore faz parte de um projeto rid\u00edculo – o hobby de um homem extremamente rico que coleciona velhas \u00e1rvores, cavando e trazendo para seu pr\u00f3prio jardim -, e \u00e9 tamb\u00e9m fascinante pela contempla\u00e7\u00e3o que apresenta, a pr\u00f3pria cena de abertura se confunde entre realidade e poesia, um flerte \u00c0S QUATRO VOLTAS, de Michelangelo Frammartino, com ecos de Ermanno Olmi, Abbas Kiarostami e Andrei Tarkovsky. E donde cada frame \u00e9 simplesmente vida, o som, a natureza: o agrad\u00e1vel farfalhar das folhas, o cantar dos p\u00e1ssaros, o ronco dos tratores trabalhando, os alde\u00f5es fuxicando, o sil\u00eancio que dispensa palavras em uma extraordin\u00e1ria viagem sensorial. O resultado \u00e9 estonteante, um cinema invis\u00edvel que sopra encantamento em tudo que nos envolve.<\/p>\n

H\u00e1 todo um ru\u00eddo controverso entre aqueles que est\u00e3o assistindo sobre os porqu\u00eas de o homem fazer isso e o que eles deveriam fazer com isso. Simplesmente porque ele possa pagar por um hobby t\u00e3o exc\u00eantrico, talvez? E por mais absurdo que pare\u00e7a o transplante de \u00e1rvores, isso pelo sinal de poder, riqueza descarada ou a conquista da natureza, fato \u00e9, do modo que Salom\u00e9 filma, um evento de grande magnitude e catarse, todo esse ato de arrancar uma \u00e1rvore e a transport\u00e1-la \u2013 e n\u00e3o uma \u00e1rvore qualquer, mas a m\u00e3e de todas, cuja copa faz sombra em todo um pomar de mexericas e a altura supera um pr\u00e9dio de 15 andares. Ent\u00e3o, a cineasta eleva sua c\u00e2mera pelas encostas de uma quieta aldeia georgiana e circunda os est\u00e1gios de andar do velho mon\u00f3lito e o faz em ode \u00e0 rivalidade entre homens e natureza, o \u00ednfimo e o gigantesco, escavando e recolhendo as imagens e nos reportando em toda sua dimens\u00e3o, a paisagem ao redor sendo despeda\u00e7ada, as pessoas ao redor sendo for\u00e7adas a se adaptar \u00e0 interrup\u00e7\u00e3o, esse curioso processo de \u201cmigrar\u201d, onde “desenraizar” \u00e9 mais do que uma met\u00e1fora.<\/p>\n

Testemunhar tais imagens \u00e9 como observar uma falha na matriz: assistir esse homem alterar paisagens, mover \u00e1rvores, deixar popula\u00e7\u00f5es perplexas, tudo por causa de seu prazer, pode ser estranhamente hipn\u00f3tico, mas por outro lado, sugere certo desconforto pelas express\u00f5es simb\u00f3licas, como a ideia t\u00f3xica de masculinidade, ou migra\u00e7\u00e3o for\u00e7ada, ou de um pa\u00eds, onde os valores e a sensa\u00e7\u00e3o de estabilidade est\u00e3o constantemente flutuando… sim, \u00e9 um filme que induz o pensamento livre, a medita\u00e7\u00e3o evocativa de um mundo surreal que paradoxalmente tamb\u00e9m \u00e9 baseado em fatos. E assim, infelizmente caminha a humanidade. E as \u00e1rvores.<\/p>\n

RATING: 76\/100<\/strong><\/span><\/p>\n

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TRAILER <\/strong><\/span><\/p>\n