{"id":39364,"date":"2020-10-14T17:36:39","date_gmt":"2020-10-14T17:36:39","guid":{"rendered":"https:\/\/spoilermovies.com.br\/?p=39364"},"modified":"2020-10-14T17:56:24","modified_gmt":"2020-10-14T17:56:24","slug":"the-trouble-with-being-born","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/spoilermovies.com.br\/2020\/10\/14\/the-trouble-with-being-born\/","title":{"rendered":"O Problema de Nascer"},"content":{"rendered":"
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O PROBLEMA DE NASCER abre em sensa\u00e7\u00f5es: nadar at\u00e9 a pele ficar enrugada; sentir o cheiro de terra molhada \u2013 e a floresta; ouvir o cricrilar dos grilos t\u00e3o alto a ponto de acordar; pegar um gafanhoto nas m\u00e3os, senti-lo pulando entre os dedos para fugir… E esse desejo de sempre estar junto. Sentir o cheiro de cigarro e protetor solar. O filme come\u00e7a e vemos as percep\u00e7\u00f5es de uma menina, t\u00e3o agridoce como poderia ser, mas logo um certo estranhamento, essa mistura de drama e suspense, horror e fic\u00e7\u00e3o, a mesma frase dita em contextos diferentes como se fosse a dica de algo que queremos rejeitar: \u201cFicamos fora o dia todo e acordados a noite toda\u201d<\/em>.<\/p>\n

Ent\u00e3o, um androide em corpo de menina a olhar para o mundo – e o mundo olhando para tr\u00e1s. Algu\u00e9m que n\u00e3o se importa com o prop\u00f3sito com o qual foi constru\u00eddo, se passar\u00e1 a vida como brinquedo ou companhia. Um simples objeto, nada mais. Algo que n\u00e3o deseja ser humano, apenas deseja o que est\u00e1 programado para desejar e que sente o que lhe foi predefinido e nada mais parece importar. \u00c9 apenas um recipiente – um recipiente para nossas mem\u00f3rias e nossa imagina\u00e7\u00e3o que significam tudo para n\u00f3s, mas nada para a criatura.<\/p>\n

\u201cFicamos fora o dia todo e acordados a noite toda. Mam\u00e3e nunca teria deixado (mas ela n\u00e3o precisa saber sobre tudo)\u201d<\/em>, o rob\u00f4 repete e as sensa\u00e7\u00f5es assumem outro contexto, as imagens insinuam uma estranha sobreposi\u00e7\u00e3o de mem\u00f3rias e imagina\u00e7\u00e3o. O p\u00fablico fica irrequieto diante do que v\u00ea, mas ele realmente viu? A nossa experiencia de mundo, incluso a maldade, se confunde com a narrativa, nos mergulha nesse caos e ali, nadamos e nadamos at\u00e9 a pele ficar enrugada.<\/p>\n

O conceito, sem d\u00favida, \u00e9 inquietante, isso para o bem ou para mal: Sandra Wollner desconstr\u00f3i um ato abomin\u00e1vel \u2013 a pedofilia \u2013 reduzindo esse tema a quase um fiapo de narrativa e deixa ao p\u00fablico, o preenchimento dessas lacunas e significados, a elucubra\u00e7\u00e3o veemente num estranho devaneio em que os princ\u00edpios causais deixam de funcionar, se tornam inexplic\u00e1veis, e nos leva \u00e0s profundezas ca\u00f3ticas do ser – e n\u00e3o \u00e0 toa as cenas da noite, do trem, porque o filme se criva dessas contradi\u00e7\u00f5es, dos vazios e ecos sombrios. A criatura neste filme n\u00e3o precisa de tal fic\u00e7\u00e3o. Nunca nasceu, nunca perguntar\u00e1 sobre suas origens ou a origem do mundo, e n\u00e3o precisa de fim, nem come\u00e7o. O PROBLEMA DE NASCER, ent\u00e3o, fica conosco, nossos lampejos de significados e apegos esmaecidos, os fantasmas que nos rondam e nos assombram, nosso julgamento pelo qual \u201cFicamos fora o dia todo e acordados a noite toda\u201d<\/em>.<\/p>\n

(*) Cr\u00f4nica livremente inspirada do material cedido pela Cercamon, incluso entrevista com a diretora<\/font><\/em>
\n RATING: 63\/100<\/strong><\/span><\/p>\n

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TRAILER <\/strong><\/span><\/p>\n