{"id":34461,"date":"2018-08-29T15:30:21","date_gmt":"2018-08-29T15:30:21","guid":{"rendered":"http:\/\/spoilermovies.com.br\/?p=34461"},"modified":"2018-08-29T23:24:06","modified_gmt":"2018-08-29T23:24:06","slug":"las-herederas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/spoilermovies.com.br\/2018\/08\/29\/las-herederas\/","title":{"rendered":"As Herdeiras"},"content":{"rendered":"
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\u00c9 imposs\u00edvel falar sobre o cinema paraguaio sem estar ciente dos anos de escurid\u00e3o, muitas d\u00e9cadas sem possibilidade de fazer cinema durante os anos 60 e 70, enquanto o resto da Am\u00e9rica Latina narrava suas pr\u00f3prias hist\u00f3rias. O Paraguai, no entanto, permanecia invis\u00edvel. Seu cinema quase inexiste. Um filme como AS HERDEIRAS, portanto, \u00e9 muito raro. Al\u00e9m da hist\u00f3ria de Chela e Chiquita, \u00e9 tamb\u00e9m a tentativa de criar um di\u00e1logo com o passado, aquele momento de obscuridade donde a sociedade n\u00e3o queria mudar ou preferia se esconder, agarrada \u00e0 sua pr\u00f3pria sombra. Dessa heran\u00e7a, persiste um t\u00eanue romance entre a pequena burguesia e os regimes autorit\u00e1rios, n\u00e3o s\u00f3 os personagens que moldaram seu tempo com botas e rifles at\u00e9 o final dos anos 80, mas inclusive os novos l\u00edderes “democr\u00e1ticos”, que agora compartilham os benef\u00edcios da corrup\u00e7\u00e3o e do narcotr\u00e1fico, sob a cumplicidade e os sil\u00eancios de seu povo.<\/p>\n

E \u00e9 por esse cotidiano, tacitamente velado, que Marcelo Martinessi escreve sua hist\u00f3ria. Seu filme \u00e9 uma gigantesca pris\u00e3o, um cinema de confinamentos, imerso num regime que protege e reprime. Suas protagonistas pertencem a essa elite protegida\/privilegiada, mas a hist\u00f3ria se desenrola adiante, quando elas come\u00e7am a perder suas garantias. Essas mulheres ainda possuem seus carros, seus criados, seus pequenos luxos, um certo conforto, mas precisam se adaptar \u00e0 nova realidade, uma nova paisagem, quase desconhecida, mas cheia de possibilidades.<\/p>\n

E de bandeja, o cineasta nos coloca ao centro dessa burguesia decadente, diante de um casal que, aos poucos, perde as pretens\u00f5es em busca da humanidade, mulheres fortes e resilientes, v\u00e1rias atrizes desconhecidas – Ana Brun, Margarita Irun, Ana Ivanova, entre outras \u2013, mulheres idosas, um grupo t\u00e3o raro quanto esse filme, produto de um tempo que, pensamos, acabou. N\u00e3o se trata de caricatura, mas um retrato sincero, feito com intimidade e curiosidade, um universo feminino, donde os homens s\u00e3o completamente ausentes. Uma gera\u00e7\u00e3o que cresceu (e viveu) moldada pelos militares e pela Igreja Cat\u00f3lica, sem ao certo um espa\u00e7o seu, mas ali presente, nesse filme cheio de mem\u00f3rias, um tanto pequeno, feito em escala humana, bem herm\u00e9tico no sentido literal e simb\u00f3lico da palavra, mas que termina em aberto, uma porta aberta para um novo come\u00e7o, uma bela e inesperada descoberta. Ent\u00e3o, um novo cinema, um novo pa\u00eds, h\u00e1 esperan\u00e7a.<\/p>\n

(*) Cr\u00f4nica livremente inspirada do material cedido pela LuxBox Films, incluso notas de produ\u00e7\u00e3o e entrevista com o diretor<\/font><\/em>
\n RATING: 74\/100<\/strong><\/span><\/p>\n

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TRAILER <\/strong><\/span><\/p>\n