{"id":28852,"date":"2016-06-23T11:04:46","date_gmt":"2016-06-23T11:04:46","guid":{"rendered":"http:\/\/spoilermovies.com.br\/?p=28852"},"modified":"2016-06-23T15:03:04","modified_gmt":"2016-06-23T15:03:04","slug":"visita-ou-memorias-e-confissoes","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/spoilermovies.com.br\/2016\/06\/23\/visita-ou-memorias-e-confissoes\/","title":{"rendered":"Visita ou Mem\u00f3rias e Confiss\u00f5es"},"content":{"rendered":"
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Tem certeza que \u00e9 esta casa? Tal pergunta nos convida para uma VISITA OU MEM\u00d3RIAS E CONFISS\u00d5ES: A c\u00e2mera passeando pelo jardim, ao som dos p\u00e1ssaros (ou dos tentilh\u00f5es?), indo e vindo pelo labirinto de arbustos at\u00e9 chegar nesse santu\u00e1rio. O casal-narrador nos guiando por esse filme, apontando para uma arvore frondosa, no azul que se destaca, sua natureza, uma \u00fanica magn\u00f3lia toda prateada como se fosse uma bailarina japonesa. Eles vieram agradecer, talvez por um jantar ou, ent\u00e3o, tomar dois dedos de prosa. E com eles, viemos tamb\u00e9m agradecer, \u00e0 Manoel de Oliveira, por tudo. <\/p>\n

Andamos mais um pouco at\u00e9 a palmeira com ar descontente que guarda a entrada (Seria o porteiro?). Diante da porta, a passagem lentamente se abre e nos convida para a casa. Adentramos e pela sala rodeada de objetos, moveis, coisas, vemos sen\u00e3o sua hist\u00f3ria no limiar da linguagem e, sim, a casa est\u00e1 vazia. Ali, h\u00e1 muitas flores. Pela janela, muitas \u00e1rvores. Ningu\u00e9m nos recebe. O sil\u00eancio se propaga pela galeria envidra\u00e7ada. No ar, tanta tormenta e tanto engano, um quadro aqui, um barco acol\u00e1, um fio de prata nos guia. N\u00e3o h\u00e1 ningu\u00e9m nessa casa. Ei, somos amigos! Mas ningu\u00e9m nos recebe… Tenho medo. <\/p>\n

A casa se torna um gigante, um objeto cinematogr\u00e1fico pousado na eternidade, enorme, cheia de sentimentos. E nessa VIAGEM AO PRINC\u00cdPIO DO MUNDO, vivendo em toda a parte, salvando o mundo, esperando o c\u00e9u, conduzindo o divino, velamos pelos homens. Ouviste? H\u00e1 algu\u00e9m l\u00e1 embaixo. A casa se cerca de mist\u00e9rios, ali desde 1942 pelas m\u00e3os de Jos\u00e9 Porto, ali vivida por Manoel de Oliveira por 40 anos, ali amarelada e enrugada como as arvores de outono, ali viu seus filhos, netos, sua maturidade, seu cinema, duas doen\u00e7as graves, uma morte, um casamento, muitas festas e desgostos. S\u00e3o esses os ru\u00eddos da pr\u00f3pria casa que, de repente, nos mostra uma coluna, talvez o mastro desse enorme navio, suas varandas e terra\u00e7os como pontes e decks. Pelos corredores, as portas dos camarotes brancos. O mar simbolizado pelo enorme choro, ou sen\u00e3o pelo imenso jardim. Andamos pela casa, pelos trof\u00e9us, um sof\u00e1 de madeira, um anjo carcomido pela \u00e1gua salgada.<\/p>\n

O vento sopra, o porteiro bate na janela. \u201cS\u00e3o horas, s\u00e3o horas\u201d, ele diz. E \u00e9 hora de ir. A casa \u00e9 imenso sossego, talvez \u00e0 espera da visita de um Deus, ou do nada. Sim, \u00e9 bonito para meditar, mas a hora j\u00e1 deu. Nos despedimos, nos arrependemos, vivos ou mortos e cheios de nostalgia. Devia ser belo, mas n\u00e3o \u00e9. Estamos a ficar melanc\u00f3licos. Manoel gosta da vida. Tanto que a viveu por 106 anos. Para ele, isso foi amor. Foi Maria Isabel entre os cravos, sen\u00e3o seu \u00fanico sentido de plenitude e pureza, a no\u00e7\u00e3o de Deus ou do absoluto. Sua casa foi nada mais que a mat\u00e9ria para essa vida, um prazer, um ref\u00fagio, o testamento, o in\u00edcio, o fim, somos n\u00f3s, o corpo est\u00e1vel. A casa \u00e9 o mundo. E sumiu. Manoel tamb\u00e9m. Estamos tristes. \u00c9 hora de ir. <\/p>\n

RATING: 100\/100 <\/strong><\/span><\/p>\n

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TRAILER <\/strong><\/span><\/p>\n