{"id":1945,"date":"2008-10-12T16:34:51","date_gmt":"2008-10-12T19:34:51","guid":{"rendered":"http:\/\/spoilermovies.com.br\/?p=1945"},"modified":"2008-10-12T16:34:51","modified_gmt":"2008-10-12T19:34:51","slug":"32%c2%aa-mostra-sp-tributo-a-hugh-hudson","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/spoilermovies.com.br\/2008\/10\/12\/32%c2%aa-mostra-sp-tributo-a-hugh-hudson\/","title":{"rendered":"32\u00aa Mostra SP: Tributo \u00e0 Hugh Hudson"},"content":{"rendered":"

A hist\u00f3ria da ind\u00fastria cinematogr\u00e1fica brit\u00e2nica tem bem menos seq\u00fc\u00eancias de novos ciclos do que sucessivas e breves explos\u00f5es individuais em resposta a circunst\u00e2ncias hist\u00f3ricas. Um dos casos mais significativos iniciou-se no final dos anos 1970 por David Puttnam, importante figura do mundo publicit\u00e1rio. Havia uma calmaria no cinema brit\u00e2nico depois do \u201cboom\u201d do financiamento norte-americano na d\u00e9cada dos anos 1960 e Puttnam decidiu que era hora de lan\u00e7ar alguns ambiciosos diretores de comerciais de televis\u00e3o na grande tela como desafio \u00e0 gera\u00e7\u00e3o dos chamados \u201cmovie brats\u201d, que faziam remakes e que dominavam Hollywood.<\/p>\n

Os principais cineastas que Puttnam tinha em mente eram Hugh Hudson, Ridley Scott, Adrian Lyne e Alan Parker. Todos tinham dirigido grandes sucessos e a maior surpresa das estr\u00e9ias produzidas por Puttnam, sucesso de cr\u00edtica e de p\u00fablico, foi o filme de Hudson CARRUAGENS DE FOGO (1981). Foram quatro dos sete Oscar para os quais havia sido indicado: Melhor filme, roteiro original, m\u00fasica e figurino. Agarrando seu Oscar no palco em Los Angeles, o roteirista Colin Wellan proferiu o c\u00e9lebre e arrogante desafio, \u201cos brit\u00e2nicos est\u00e3o chegando\u201d.<\/p>\n

Nascido em 1936, Hudson foi o mais velho dos protegidos de Puttnam e, por qualquer avalia\u00e7\u00e3o que se fa\u00e7a, o mais complexo. Nasceu em uma fam\u00edlia abastada, estabelecida no condado de Shropshire, e educou-se em Eton. Depois de dois anos no regimento de cavalaria na Alemanha, rejeitou os privil\u00e9gios, recusou-se a entrar nos neg\u00f3cios da fam\u00edlia ou freq\u00fcentar a Oxbridge. Apaixonou-se por cinema, estudou Edi\u00e7\u00e3o em Paris antes de come\u00e7ar a trabalhar em publicidade, dirigindo premiados comerciais de televis\u00e3o e fazendo document\u00e1rios geralmente para empresas as quais ajudou a criar. O mais c\u00e9lebre (embora raramente visto) document\u00e1rio \u00e9 o deslumbrante FANGIO: UMA VIDA A 300 KM POR HORA (1975), elegante retrato do piloto argentino de F\u00f3rmula 1 Juan Fangio. Um de seus fot\u00f3grafos era Kubrick, que foi colaborador pontual de John Alcott, que mais tarde faria o filme de Hudson GREYSTOKE: A LENDA DE TARZAN. Outro foi o franc\u00eas Bernard Lutic que foi diretor de fotografia nos filmes REVOLU\u00c7\u00c3O, TEMPO DA INOC\u00caNCIA, \u00c1FRICA DOS MEUS SONHOS, bem como trabalhou com Hudson no filme de Alan Parker O EXPRESSO MEIA-NOITE.<\/p>\n

Hudson rejeitou in\u00fameras ofertas antes de descobrir em CARRUAGENS DE FOGO os temas certos nos quais se engajou. Incluem-se quest\u00f5es de discrimina\u00e7\u00e3o de classes, preconceito racial, nacionalismo, rebeli\u00e3o contra as institui\u00e7\u00f5es e contra a autoridade moral. Essas preocupa\u00e7\u00f5es existiram em tr\u00eas filmes que, em retrospectiva, constituem uma trilogia informal, tratando-as com mais profundidade e sutileza como as defini\u00e7\u00f5es ampliadas e levadas de volta ao passado, a partir dos anos 1920 do s\u00e9culo XVIII.<\/p>\n

Desdobrando-se em flashback a partir de 1960, o l\u00edrico e ricamente realizado CARRUAGENS DE FOGO cobre os cinco anos que antecedem os Jogos Ol\u00edmpicos de 1924 e os efeitos sobre os tr\u00eas outsiders. O primeiro, o escoc\u00eas pregador e filho de mission\u00e1rios Eric Liddell (Ian Charleson), um grande atleta cujos princ\u00edpios religiosos o pro\u00edbem de correr aos domingos. O segundo, o grande corredor Harold Abrahams (Ben Cross), tratado com condescend\u00eancia pelos professores anti-semitas da Universidade de Cambridge por sua descend\u00eancia de imigrantes judeus e por sua vulgar ambi\u00e7\u00e3o. O terceiro, Sam Mussabini, um paternal trabalhador, treinador de origem \u00e1rabe-italiana, protege Abrahams; como um pren\u00fancio de profissionalismo toca o sino da morte sobre a tradi\u00e7\u00e3o da classe amadora. A partitura de Vangelis \u00e9 o ritmo da bateria, o tom do filme \u00e9 triste e premonit\u00f3rio.<\/p>\n

GREYSTOKE: A LENDA DE TARZAN, O REI DAS SELVAS (1984) reservam seis d\u00e9cadas do primitivo filme MIM TARZAN, VOC\u00ca JANE envolvidos com o romance original de Edgar Rice Burroughs de 1912. Conta a hist\u00f3ria de como John Clayton, o futuro Conde de Greystoke, criado por s\u00edmios na \u00c1frica, ap\u00f3s a morte de seus pais num naufr\u00e1gio, retorna \u00e0 Inglaterra no final do s\u00e9culo XIX, para enfrentar a fam\u00edlia aristocr\u00e1tica. Somente com o av\u00f4 paterno (excelente desempenho de Ralph Richardson em sua \u00faltima apari\u00e7\u00e3o no cinema) \u00e9 que estabelece um v\u00ednculo amoroso que transcende o preconceito e a ignor\u00e2ncia. Finalmente, regressa \u00e0 \u00c1frica acompanhado do explorador belga (Ian Holm, como Mussabini em CARRUAGENS DE FOGO) que se transformou em seu pai substituto e da dedicada namorada Jane. Numa cena crucial, John abre uma nova ala do Museu de Hist\u00f3ria Natural dedicado a Charles Darwin. Este \u00e9 um filme de beleza tr\u00e1gica.<\/p>\n

A mais complexa e sub-avaliada foto de Hudson, REVOLU\u00c7\u00c3O (1985) \u00e9 uma obra prima imperfeita que acompanha o contrastante sucesso de tr\u00eas pessoas pegas pela turbul\u00eancia social e pol\u00edtica da Guerra da Independ\u00eancia americana, onde proliferam pais reais e substitutos e um colonizador brit\u00e2nico mata o pai para se tornar um novo republicano. Os verdadeiros rebeldes do filme s\u00e3o uma idealista da classe m\u00e9dia de Nova York (Natassia Kinski), que desafia os pais conservadores por participar da revolu\u00e7\u00e3o. Um analfabeto ca\u00e7ador de peles (Al Pacino) tenta n\u00e3o se envolver numa causa que n\u00e3o consegue entender e \u00e9 enganado pelos dois lados e procura proteger o filho que lhe restou. Um autorit\u00e1rio sargento-major ingl\u00eas (Donald Sutherland) tenta, ano ap\u00f3s ano, fazer o seu dever e servir ao paternalista rei. Um colorido e ir\u00f4nico \u00e9pico retrato sobre Griffith, DeMille e Brecht, foi cruelmente e casualmente descartado em 1986. Tal como aconteceu com o injustamente rejeitado filme de Michael Cimino O PORTAL DO PARA\u00cdSO, chegou o momento de REVOLU\u00c7\u00c3O receber o apre\u00e7o que merece da audi\u00eancia.<\/p>\n

Desde REVOLU\u00c7\u00c3O Hudson fez somente mais tr\u00eas longas \u2013 o filme sobre problemas sociais DE VOLTA PARA CASA (1989), \u00fanico filme feito na Am\u00e9rica; a encantadora hist\u00f3ria sobre rito de passagem TEMPO DA INOC\u00caNCIA (1999), sobre crescimento numa exc\u00eantrica fam\u00edlia escocesa de fam\u00edlia de classe m\u00e9dia alta; e \u00c1FRICA DOS MEUS SONHOS (2000), a verdadeira hist\u00f3ria, uma reminisc\u00eancia de ENTRE DOIS AMORES, uma aventura de aristocratas italianos no Qu\u00eania. O novo projeto coloca Colin Firth e Geoffrey Rush numa vers\u00e3o cinematogr\u00e1fica de Homenagem \u00e0 Catalunha, o cl\u00e1ssico livro de mem\u00f3rias do antigo ex-aluno rebelde de Eton, George Orwell, sobre sua participa\u00e7\u00e3o na Guerra Civil Espanhola. Em 1941, pouco tempo depois de Homenagem \u00e0 Catalunha, Orwell escreveu: \u201ca fam\u00edlia cujo controle est\u00e1 nas m\u00e3os dos integrantes errados \u2013 talvez seja o mais pr\u00f3ximo que se possa chegar para descrever a Inglaterra numa frase\u201d. Poderia ser a ep\u00edgrafe da obra de Hudson.<\/p>\n

Por Philip French (The Observer)<\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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