We Believe You


WE BELIEVE YOU é um tribunal de sombras e luz, onde o tempo rasteja, retalhado entre palavras que pesam como correntes invisíveis. Cada olhar cruzado na sala de audiências carrega o fardo de histórias sufocadas, ecos de dor e desespero que reverberam no ar, enquanto a verdade se insinua nas entrelinhas, disfarçada em silêncios. Ali, não há brechas para dúvidas, mas o silêncio grita mais alto que qualquer testemunho. Na estreia do casal Arnaud Dufeys e Charlotte Devillers, cabe tão somente filmar, sua câmera aos olhos das crianças, frágeis como vidro. Também aos olhos vulneráveis de Myriem Akheddiou, a mãe tremula mas firme, aos olhos endurecidos de Laurent Capelluto, o pai que carrega na expressão a frieza do arrependimento não assumido, da culpa que se esquiva da confissão. Mas é sob os olhos da lei que o drama se desenrola – imparcial, impiedoso, esculpido em fatos e argumentos, um jogo de espelhos onde ninguém reflete exatamente o que é. Um cinema aninhado na retórica de um sistema que promete justiça, mas entrega apenas formalidades vazias.

Sim, “nós acreditamos em vocês”, como o título sugere, mas antes, exige-se uma pantomima de provas, uma via-crúcis de explicações. A justiça esmiúça-se até sua forma mais pura e falha, sem de fato ouvir, sem verdadeiramente ver. As crianças tornam-se meros objetos de partilha, sentadas em uma sala estéril, esperando – como quem aguarda o veredicto de um destino que jamais puderam escolher. Então, o tempo se dobra uma vez mais, e a verdade se vê aprisionada entre parágrafos e precedentes. Não há trégua, não há paz.

O tema aqui é árido, cortante: a violência doméstica camuflada sob os véus da linguagem jurídica. Termos e testemunhos, argumentos e contra-argumentos, empilhados como peças de um monólogo de tensão, um suspense de audiência onde cada palavra pesa como prova incontestável. O olhar feminino e materno conduz a narrativa e, não à toa, a câmera insiste nos closes prolongados, nos planos de escuta, no silêncio carregado de significados. O público vê a mãe enquanto ouve o tribunal, lê sua revolta nas feições, na resistência corporal contra cada gatilho prolongado, repetitivo, devastador.

Tudo se desenrola em tempo real, 55 minutos sem cortes, sem refúgio. Os atores são lançados ao olho do furacão jurídico: profissionais e amadores, atores e advogados reais, todos imersos na tensão de uma audiência sem ensaio, onde há apenas uma chance de apresentar seu caso. O resultado é um cinema que pulsa como um julgamento, onde o tempo pode até se arrastar, mas avança feroz, impiedoso, em busca de culpados e inocentes.

RATING: 78/100

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REVIEW · BERLIM

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