Motel Destino


MOTEL DESTINO é um filme foda (literalmente): Karin Aïnouz nos provoca com um noir suado, sujo, vibrante, filma o sexo de Iago Xavier e Natália Rocha sem qualquer pudor, até mesmo de forma animalesca e o faz por quase duas horas de projeção, os corpos sempre nus, bronzeados, enfastiados de tanto sexo. A história (que história?) trata de um jovem sexy, um marido triste, uma femme fatale, mas tudo se perde nos colchões encarquilhados, nos lençóis amarfanhados… não há história aqui, o que importa é o fetiche pelo olhar voyeurista, o desejo obsessivo de controlar e consumir, um roteiro de gozo rápido, sim, extremamente prazeroso pela intensa fotografia e trilha, mas, tal como um desejo insatisfeito, esvai-se, dilui-se, deixando apenas a sensação de vazio.

Talvez o tesão do filme estivesse na mesma quentura que pulsa dO CÉU DE SUELY, A VIDA INVISÍVEL ou MADAME SATÃ – uma filmografia que se move na interseção do desejo, poder e impulsos humanos, como amantes que se tornam impossíveis de separar. O toque, a mera presença desses filmes é como uma explosão (de brasilidade?), desafiando os limites, fazendo com que as paredes, antes firmes e imutáveis, se derretam sob o peso do desejo. Não é o caso aqui, não no Motel Destino. Em vez de um clima saturado de sensualidade, o filme brocha em um melodrama insípido, talvez até um thriller erótico, mas sem conseguir provocar qualquer sensação real, sequer um arrepio. O fogo se apaga logo no contato.

Enfim, sob o sol escaldante, Aïnouz revisita o cinema noir, mas, ao invés das sombras típicas do gênero, convida o público a se perder em uma explosão de cores vibrantes, saturadas e ardentes. Longe da escuridão, ele nos leva a um cinema-tórrido que pulsa ao ritmo de um coração consumido pelo desejo. É um universo onde tudo é possível, tudo ferve, o desejo é absoluto. E ele nos guia por esse caminho, pela falta de vergonha, pela vulgaridade dos personagens que buscam, com intensidade, consumir suas paixões e esculpir seus próprios destinos. O Motel Destino, o título do filme, se torna, então, um cenário kitsch, espaço para desafiar o futuro, talvez a própria sociedade.

Tal melodrama é marcado por um erotismo descarado, tensões homoeróticas e vertigens dionisíacas, tudo isso no cenário tropicalista que, atravessado por uma fúria incontrolável, nos entrega corpos ardendo de desejo, se movendo com urgência pela vida. Sim, um cinema dos sentidos – suado, quente, de pele contra pele, de cheiro e toques, onde o prazer é palpável e, apesar da violência, a humanidade dos personagens nunca se apaga. O que se apaga, lentamente, é o filme – um suspiro que some sem deixar vestígios, assim, sem amor.

RATING: 69/100

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FILMES · CANNES · FILMES LGBT

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