Três Quilômetros para o Fim do Mundo


Típico exemplar do cinema romeno, seco, estático, inflexível, filmado no modo mais convencional possível, a câmera fixa em longos planos para que haja uma cena, um diálogo, uma discussão e donde a história em si é o mais interessante: a violência – física e subliminar – cometida a um jovem homossexual, isso sugerido pela família, os vizinhos, o padre, a polícia e toda a comunidade local.

A premissa é sedutora para um debate: surge com o silencio de um rapaz (Ciprian Chiujdea), do nada marcado por uma surra, o olhar inchado, roxo em sinal de força e violência, mas também de resistência, de paciência diante da opressão. O pai do jovem (Bogdan Dumitrache) se enfurece – primeiro de dor, a aflição de um pai pelo filho, depois de raiva, ao suspeitar de um vizinho por uma dívida antiga, e por fim, de mal-entendido, ao perceber que a origem da violência vem dos gestos do próprio filho. E a fúria flui sem fim, personagem por personagem, se juntando e misturando em vão até o Delta do Danúbio, onde a terra acaba e o mar começa. Nessa aldeia aparentemente intocada, onde o limite parece estar a apenas TRÊS QUILOMETROS PARA O FIM DO MUNDO, cada encontro carrega o peso de uma despedida ou o agravamento de uma crise: assim desde um amigo tentando uma reconciliação até o padre convocado para um exorcismo. Esse cenário soa familiar? Se sim, talvez seja porque a trama, assim como a estrutura desse tipo de cinema (ou da culpa que o envolve), exige pouca adaptação para ser reconhecida.

A proposta vai além da forma: há um desconforto latente ao se observar – ou melhor, ao não se observar, já que nada é explicitamente mostrado, tudo é apenas sugerido – como o filme se aprofunda em atitudes cada vez mais retrógradas, desde os homens da Igreja até os magnatas do turismo. E essa evolução culmina em um simples binarismo entre o esclarecido e o conservador. Ao cineasta Emanuel Pârvu cabe a responsabilidade de colocar a câmera sobre as costas do protagonista, forçando-o a carregar o peso do mundo, enquanto esse cinema se torna um fardo, uma penitência, talvez um faroeste social ou, quem sabe, a “caricatura” da sociedade romena, um espetáculo de preconceitos que nos pede, quase à força, pena ou desaprovação. Embora superficial, embora ficção, essa impressão, infelizmente, persiste.

RATING: 70/100

TRAILER

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REVIEW · CANNES · RIO · FILMES LGBT

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