




OH, CANADÁ, oh, tempo irremediavelmente desperdiçado… Paul Schrader convoca Richard Gere para protagonizar um autêntico “filme-Wikipedia”, estruturado como uma entrevista tediosamente expositiva sobre a trajetória de um homem dúbio e iludido, em cuja vida, paradoxalmente, nada de substancial acontece. A montagem, insistentemente fragmentada, oscila entre passado e presente, movida por uma compulsão quase patológica de revelar um segredo ao estilo “João Kléber”, cuja inevitável irrelevância apenas reforça a vacuidade da narrativa.
O roteiro carrega em si uma tensão latente acerca do envelhecimento e da deterioração física, permeado por reflexões sobre a hipocrisia da indústria cinematográfica e as decisões, tanto pessoais quanto políticas, que marcaram a geração norte-americana nos turbulentos anos 1960. Contudo, há algo de simultaneamente angustiante e exasperante na abordagem: uma tentativa agressiva de acerto de contas com o passado que se entrega, sem qualquer vestígio de originalidade, aos lugares-comuns do gênero biográfico. Mais do que uma reconciliação com a vida vivida, parece um exercício de resignação diante de sua iminente finitude. Talvez almeje ser uma profunda meditação sobre a mortalidade; porém, na forma em que é concebido, assemelha-se mais a um inventário monótono e desprovido de vigor, uma espécie de relatório burocrático sobre os horrores inexoráveis da velhice e da morte iminente – e como essa ameaça dupla contamina a mente, deformando as lembranças.
A estrutura narrativa adota o formato de um mosaico, alternando-se entre um tom de confessionário e uma série de flashbacks, dispersos em diferentes direções temporais. Essa oscilação incessante entre dois personagens – o jovem e o velho – se ancora no dilema da Guerra do Vietnã: o recrutamento compulsório e a perspectiva de sucumbir por uma causa fadada ao fracasso. O desfecho, trêmulo e febril, parece hesitar entre a certeza e a ruminação desse fracasso, culminando em um testamento confuso cuja própria encenação – essa entrevista interminável – torna-se progressivamente constrangedora. Todos – desde a resignada esposa (Uma Thurman) até o próprio público, exaurido pelo marasmo do roteiro – rogam pelo fim da projeção, mas o filme persiste, irredutível em sua intenção de reiterar, pela enésima vez, fragmentos de uma existência que já foram narrados, lidos e analisados à exaustão. O resultado? Um estereótipo narrativo que seria hora de rediscutir e desconstruir, mas não, não aqui. Oh, piedade de nós!
RATING: 63/100

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