Cryptozoo

Quem gostou da vibe “Adult Swim” de MY WHOLE HIGH SCHOOL SINKING INTO THE SEA, saiba que esse novo filme de Dash Shaw é ainda mais ambicioso – moralmente, emocionalmente e tecnicamente: uma visão utópica de heróis e anti-heróis, inspirada nos quadrinhos underground dos psicodélicos anos 60, essa história situada entre o sonho lúcido, a viagem de terror e um ménage de monstros inimagináveis. O filme em si como um bestiário Dungeons & Dragons e ainda mais descarado porque reúne criaturas de uma gama infinita de tradições mitológicas, belos unicórnios, górgonas emponderadas, elfos karzekeks e bakus sonolentos e todos esses ANIMAIS FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM no submundo do imaginário, ali reunidos nesse ideal de santuário para fazer miçangas e cantigas de roda, enquanto o cineasta promove uma grande colagem, desenhando conexões e justaposições, algo muito novo, divertido, cheio de deboche viperino, melancolia “Wes Anderson” e recursos estroboscópicos para não deixar ninguém indiferente.

A cena se passa em um grande parque temático, o tal CRYPTOZOO do título, um conceito que naturalmente nos fascina – tantos cartunistas e desenhistas também – porque evoca essa “ideia” de Walt Disney. E aqui, particularmente nas origens do Epcot Center, a concepção de cidade onde as pessoas viveriam o futuro em sua visão definitiva, mas que não o foi, porque Disney morreu e com ele, essa utopia. Em paralelo, a narrativa de Dash também se constrói na Califórnia, não à toa os anos 70 e no mesmo lugar donde a imaginação reinaria, um espaço dos sonhos para criptídeos viverem, embora tudo se encaminhe para um shopping center hippie. E é curioso, inclusive, essa caça mágica ao Baku, o ser mitológico que se alimenta de pesadelos, mas também pode devorar a esperança e o desejo, tornando a vida completamente vazia… e ele é o prêmio pelo qual todos lutam, que o exército deseja dominar para destruir os devaneios da “cultura alternativa”, que os mocinhos precisam para educar o público e propagar a paz. E por ele, tudo se perde, afinal.

Como cartunista de profissão, Dash constrói um universo único no espírito daquelas aventuras clássicas de Hollywood, aquele cinema meio lembrado que você assistiu quando criança na Sessão da Tarde, AS 7 FACES DO DR.LÓ, FÚRIA DE TITÃS, JASÃO E OS ARGONAUTAS… e o faz meio distorcido, meio enigmático, muito pessoal, cada criatura concebida sob os traços originais de sua cultura, assim como ditavam as lendas da época. O resultado é notável na forma como se estende ao fantástico e ao naturalista, as técnicas de animação, a coloração, as formas, a maneira como percebemos uma figura em si, bem como sua carga simbólica, tudo sugere animação e entretenimento. E detalhe, feito inteiramente a mão, sim, um filme genuinamente de autor.

RATING: 73/100

TRAILER

EM BREVE

Article Categories:
ANIMAMUNDI · REVIEW · BERLIM · SUNDANCE

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.