Relatos do Mundo

Um filme sobre os RELATOS DO MUNDO de outrora, o princípio da civilização donde o tempo se mede com um relógio de ouro ou pelo lento clique-clique da roda de uma carroça e isso situado em uma terra arrasada, governada por bandidos, índios e colonos nos últimos suspiros da guerra civil americana. E é ali que Tom Hanks vai ler seus folhetins, ele todo aprumado e austero, trajes finos diante de homens e mulheres ávidos por comunicação, gente miserável que corre de suas casas iluminadas pelo fogo, dos salões ou dos pastos para ouvir as notícias distante. E é assim de cidade em cidade, tudo por alguns centavos e um pouco de Red Dead Redemption.

Então, situado o contexto histórico, Paul Greengrass filma um road movie de redenção, a história de um veterano de guerra, já entorpecido pelas maldades do mundo e ali sobrevivendo seu próprio faroeste até encontrar uma menina Kiowa, a mesma Helena Zengel de TRANSTORNO EXPLOSIVO, a mesma interpretação furiosa porque a menina foi sequestrada e agora é uma garota que anseia retornar ao seu povo, que não liga para o mundo de homem branco, que grita pela mãe, pelo pai, a vida nômade nas planícies, sua tribo viajando por onde os búfalos a levem seguindo as águas do Rio Vermelho. E logo uma jornada (intima?) de quatrocentos quilômetros e um filme cativante, aventureiro, imersivo, grandes cenas em céu aberto, grandes cenas de tocaia e tiroteio, sim, porque o cineasta é mestre nessas construções, o mesmo suspense de gato e rato visto em filmes anteriores, VÔO UNITED 93, CAPITÃO PHILLIPS e principalmente 22 DE JULHO, aqui particularmente em duas grandes sequencias, um thriller de bangue-bangue nas montanhas e, depois, uma avassaladora sequência de tempestade na areia, dessas feitas para se notar o trabalho de fotografia, de design de som e a trilha sonora quase em um sussurro feérico.

Baseado no livro homônimo de Paulette Jiles, a adaptação se perde um pouco no catado de episódios, algo bem longe do material original, aquele vislumbre de um mundo no rescaldo da guerra e dominado pelos “blues nortistas”, também pouco é explorado das leituras do protagonista, notícias escapistas, mas, não obstante, jornalísticas e verdadeiras. O filme, parece, está focado no vínculo amoroso entre o velho e a jovem e os perigos dessa jornada, quase sob o escopo de esquetes fechadas. De fato, é toda uma narrativa escrita ao redor de Tom Hanks, seu personagem, seus valores, o toque da saudade… uma boa historia para se ler em um livro ou se ver no filme. Uma história sincera que nos acolhe de repente – num estalo -, e se vai bem longe, com o vento, que vale por uma moeda, a notícia ou relato, mas depois se desfaz, sim, porque outras histórias virão para alguém contar.

RATING: 71/100

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FILMES

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