Piedade

PIEDADE (por nós?), pela siri-opera de Claudio Assis, seus personagens brutos, sua utopia etérea, o mundo cão desse filme de divertimento feito na praia da saudade, no paraíso do mangue, no quintal de Dona Carminha; Um drama que abre na punheta de Aurélio em seu box embaçado, no apartamento sanitizado de vista à praia, à garrafa de whisky e diante de um vilão canastrão indo e vindo catando os filhos dos outros pelo mundo (pelo filme) em troco dos royalties de um pedaço de terra amarfanhada, nesse mar aí, cheio e cheiro de melancia.

E de novo o argumento de AQUARIUS, que Kleber Mendonça Filho outrora filmou (também no Recife), mas aqui sob a clássica direção reggaeton de Assis, no destempero da fotografia, nos filtros vermelhos, amarelos e viscerais, na vibe ecológica, um ambiente mais sujo, mais escuro, o cinema-puteiro que fede a gala seca e exala sexo cheiroso, um barco perdido à mercê do gafanhoto de ferro, uma manifesto remoendo memórias carcomidas de maresia, sem energia, sim, mas repleto de caos, cheiro aperreio, ar salgado, discurso presepada e pé na areia.

Então, a saga (ou novelão?) de Marlon Brando, filho de Sandro; de Omar Shariff, tio de Ramsés; os filhos de Beto Bezerra no faroeste caboclo do capitalismo, nesse discurso com cheiro de feijão e suor de moqueca, os cacos reunidos no Sol, a família reunida no luto de Carminha, enquanto o tubarão rodeia a película, de perto, quase morto, quase uma crença, mas não o é: o plano final comprova isso e é outra punheta.

RATING: 67/100

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FILMES

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